sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A tatuagem

Capítulo 30 – You're on my heart just like a tattoo. 



[n/a: último capítulo AAAA já to surtando heuaehuahua mas a mini nota aqui não foi pra isso /dãa we have a song: 5:19/Matt Wertz Aah, o capítulo pode ser meio grande rsss estão avisados!




Chay trouxe o carro de Arthur e chegou quinze minutos depois dele. Assim como aconteceu com Arthur, ele também encontrou Pedro sentado na entrada do hospital fumando.
- Eii cara! Por que está aqui fora? Há tempos você não fumava! O que aconteceu?
- Calminha aí metralhadora de perguntas AK-47! Uma de cada vez.
- Hum... aconteceu alguma coisa grave que eu deva saber agora e você ta enrolando pra falar? – Chay sentou ao lado dele, observando sua leve expressão apreensiva.
- É que eu acho que fiz merda agora há pouco...
- Tem banheiro no hospital, não ta sabendo não? – Chay quis brincar e recebeu um olhar atravessado. Ficou sério e encolheu os ombros – Ta bom, não teve graça.
- Arthur chegou aqui tem uns minutos e me perguntou as coisas, mas eu não sabia como falar o que o médico tinha acabado de nos dizer!
- E o que era? A Lu ta bem?
- Vou repetir as palavras dele!
- Ta, mas pula as partes de "Olá, boa tarde. Vocês são parentes de Lua Blanco?"
- Como você sabe que ele disse exatamente isso?
- Ah! Todos dizem mais ou menos isso, pelo menos na tv!
- Que medo de você... mas enfim, ele disse: "A Lua chegou aqui num estágio avançado e, bom... eu sinto muito, não teve como salvar."
- C-como assim? Você ta dizendo que aconteceu uma tragédia com ela? – Chay esbugalhou os olhos pra cima dele.
- Foi isso mesmo que eu perguntei! Mas não foi nada disso, ele se referia à criança!
- Que criança?
- Ela estava grávida, cara!
- Sério? E o Arthur nem sabia?
- Não, ninguém sabia! Acho que nem ela! Agora imagina, como eu ia dizer pra ele? Quando ele chegou aqui eu estava tão tenso que ele pode ter pensado que quem morreu foi ela! Eu não soube como dizer que ela estava grávida e que perdeu o bebê... Do jeito que o Arthur é surtado, tenho medo que ele tenha um treco.
- Ah, relaxa... Vamos encontrar as meninas lá!


Lua e Arthur desceram do terraço antes que alguém procurasse por eles.
Ela ainda não havia entendido direito o motivo pra Arthur ter ido até lá... Chegaram ao quarto onde ela estava, sem conversar durante o caminho.
- O que foi? – Lua percebeu que ele hesitava, parecia assustado e travou na entrada do quarto.
- Ali, você tava ali! – Arthur apontou apenas com o olhar para a cama do quarto 1209, onde antes havia um corpo coberto.
- Eu? Quando? – Lua foi entrando e sentou na outra cama, a que estava vazia na hora da visita de Arthur.
- Quando eu vim aqui minutos atrás! Você tava coberta naquela cama! E agora sumiu! – Arthur tinha um certo medo na voz, os olhos estavam três vezes maiores do que o normal e ele não desgrudou da porta.
- Aquela não é a minha cama, seu paia. O meu leito é esse, de número... – ela virou a cabeça pra olhar na cabeceira – 273A!
- Mas eu cheguei no quarto e perguntei "OiaquiéoquartodaLua?" – Arthur finalmente desencostou da porta e caminhou quarto adentro. Ele falava rápido e quem quisesse entender precisaria se esforçar um pouco. – Aí a enfermeira gordinha disse "Ah sim, eu sinto muito, ELA ACABOU DE MORRER!" Aí eu caí ao chão de joelhos e gritei agarrando a saia dela "NÃAAAAO, NUM É POSSÍVEL MEU DEUS! POR QUÊ?" e ela tocou no meu ombro de uma forma sinistra que me deu calafrios e respondeu...
- Arthur, Arthur, pode parar. Eu já entendi, ta tudo ok!
- NÃO TA TUDO OKAY! ELA TAVA FALANDO DE VOCÊ E DA PORRA DA SUA MORTE! – Arthur agitava os braços. Fez Lua se lembrar daqueles bonecos de posto de gasolina com braços enormes e coloridos. Foi preciso uma força enorme pra não rir alto.
- Sushh! Estamos num hospital Arthur. Espere pra imitar um boneco de posto quando chegar em casa! – Lua se divertia com o alvoroço dele. Tampou os próprios lábios com o dedo em sinal de silêncio. Ela já imaginava o que devia ter acontecido.
- Mas como você me explica isso? – ele agora sussurrou, entre dentes. Queria ter gritado.
- Foi um engano. Ela por acaso disse o sobrenome da garota morta? E você perguntou exatamente por Lua Blanco?
- Hm... Não.
- Então era outra garota. – Lua explicou calmamente e deu tapinhas na cama para que ele sentasse ao lado dela. – Me colocaram nesse quarto. Eu já fiz vários exames desde que cheguei e no intervalo entre um e outro, eles me mandavam pra cá. Eu ouvi quando duas enfermeiras conversavam sobre ela. Se chamava Lua Rockfeller, parece que estava em coma. Hoje ia fazer um mês que ela estava aqui. As enfermeiras já se sentiam amigas dela, eu fiquei sabendo de quase toda a história da moça! – disse com uma risadinha e abaixou o olhar depois. Os dois ficaram um tempo olhando pro nada até que Arthur tocou no queixo de Lua fazendo-a olhar pra ele.
- Você não sabe o tamanho da explosão emo que causou em mim só por aparecer ali no terraço! – Arthur tinha os olhos aguados de novo. Olhou nos olhos dela como se fosse transferir suas lágrimas pra ela. Rangeu os dentes pra ajudar a conter o choro.
- E olha que eu já estive em modelitos melhores! – Lua soltou uma risada nervosa, pensando em como sempre consegue dizer coisas sem sentido nos momentos mais loucos. Ela ajeitou um pouco o cabelo dele, os dois estavam com os fios bagunçados pela ventania que estava no terraço. – Por que você foi até o terraço, Arthur? Eu te vi subindo as escadas quando estava voltando pro meu quarto... aí fui atrás.
- Não sei, fiquei meio sem rumo! Eu não saberia o que fazer se você tivesse mesmo...
- Ah, ta bom! Já chega de pensar nisso. Foi um engano e agora você já sabe. Aliás, muita mancada do hospital colocar xarás no mesmo quarto. Ainda mais quando aparece um paia que nem você! Nem pra conferir o sobrenome! – Lua mal conseguia terminar a frase por estar rindo demais. Ela teve de abaixar o rosto até o nível do travesseiro, dando as costas pra Arthur por uns segundos. Ele esperou que o som abafado da risada dela ficasse mais baixo.
- Eu fiquei nervoso. Quando você caiu, aquele som me fez imaginar muitas coisas. – Arthur abaixou o olhar e mordeu a boca quando viu que Lua voltava a sentar-se normalmente. – Depois eu chego aqui e o Pedro não consegue me falar bosta nenhuma, aí eu procurei o quarto, e mesmo utilizando o elevador, eu cheguei aqui arfando. – Lua percebeu uma pequena oscilação na voz dele, como quem vai chorar. – A imagem desse quarto, com uma cama vazia e outra com um corpo todo coberto já me deixou nauseado... A enfermeira se aproximou e disse o que você já sabe. Parecia que essas paredes apagadas de hospital estavam se fechando, elas não paravam de se fechar e eu achei que iam me esmagar. Acho que de fato esmagaram porque eu nunca senti tanta dor.
O rosto de Arthur estava abaixado, mas Lua pôde ver uma lágrima pingar do queixo. Viu a gotinha cair na calça dele e formar um pequeno círculo. Os olhos dela automaticamente se encheram e ela olhou pra cima numa tentativa de não deixar as lágrimas saírem de dentro deles. Pegou a mão gelada de Arthur. Estavam frias e trêmulas enquanto as de Lua estavam quentinhas. Ela fechou a mão dele num sanduíche com suas duas mãos. A diferença de temperatura foi reconfortante pra Arthur, ele foi se inclinando lentamente até encostar a cabeça no tórax dela.
- Não fique assim! Desculpe por ter dado risada, eu sou uma insensível...
- Hoje eu passei alguns minutos acreditando que eu não poderia mais te ver, não poderia mais viajar nos seus olhos, nem sentir o toque reconfortante da sua mão, brincar com os seus dedos, ouvir você falando assim e perceber meu coração batendo lento, querendo parar o mundo todo pra você poder falar. – Arthur mantinha a voz baixa, o suficiente para apenas Lua ouvir. Ele fez uma pausa e desencostou a cabeça do tórax dela, ficando reto de novo pra olhá-la de frente. – Eu não ia agüentar uma vida inteira disso. Porque eu te amo e você é como uma música que eu não posso parar de ouvir.
As lágrimas que Lua segurava caíram todas de vez. Arthur a abraçou e beijou sua cabeça. Depois de tudo ela não sabia como contar do filho que perderam.
- Não vou te deixar de novo. Nem que você queira! – a voz dela saiu abafada contra o peito dele. Ela se afastou e o encarou. – Ainda preciso te contar o que me trouxe aqui.
- Sim, pode falar! Acho que o momento choradeira já passou, não tenho mais lágrimas!
- Espero que não se chateie muito comigo, eu também não sabia.
- O que? Está me assustando de novo! O que foi? Você só tem 6 meses de vida? Puta que pariu! Vamos nos casar e viajar pelo mundo!
- Fica quieto Aguiar! Por que todo mundo sempre tenta adivinhar o que eu vou dizer?! – ela deu um leve tapa na bochecha dele, que parou de surtar e a encarou.
- Ok, desculpe... é que você faz suspense! Mas não judia de mim porque você viu que eu to em choque e...
- Eu tive um aborto natural.
- Mas hein?! Eu entendi direito?
- É, isso aí que você entendeu.
- Mas... mas... você estava grávida?
- Parece que sim.
- E você não me contou?
- Acabei de falar que eu não sabia! – ela se justificou e depois soltou o ar.
- Mas como?! Grávidas sempre sabem quando estão... GRÁVIDAS!
- Só depois né, mas a minha estava muito no começo.
- E por que foi que ele morreu? Foi por causa de ontem?
- Segundo o médico, foi sim. Foi a briga, eu levei golpes na barriga.
- Filha da... e eu nem posso falar mal dela! – Arthur pressionou os olhos.
- Falar mal dela não vai reverter as coisas, Arthur.
- Ah, mas quer saber? Foda-se! Aquela puta, suja, mal amada, filha de uma chocadeira, dá-cu, destruidora-de-lares-que-anda-pelada, putinha fácil, não podia matar o nosso filho nem antes nem depois dele nascer! – Lua ignorou o resto da frase e deu um sorrisinho ao ouvir ‘nosso filho’ na voz dele. Saindo da boca dele, as palavras pareciam mais doces do que realmente são.
- É... – ela encarou o lençol até cortar o silêncio de novo – Você estava preparado, Arthur? – perguntou de repente sem pensar muito.
- E-e-eu acho que apesar de não ser o melhor momento a gente dava um jeito.
- Desculpa por eu não ter percebido uma coisa tão óbvia, cheia de sinais e por vacilar bebendo. Eu também contribuí, eu já comecei sendo uma péssima mãe!
- Não! De jeito nenhum! Você não teve culpa. Tudo que acontece tem um motivo. – ele subiu a mão fazendo carinho no antebraço dela. – Vai ver tinha de ser assim.
Após alguns segundos de silêncio, a enfermeira que falou com Arthur minutos antes entrou no quarto acompanhada por um outro rapaz. Este entrou no quarto furioso e já pegou Arthur pela gola da roupa acabando com a paz e o silêncio do lugar.
- A enfermeira me contou que você esteve aqui dizendo que tem um caso com a Lua! MAS ELA ERA MINHA MULHER! Como ousa? SEU FILHO DA PUTA!
- Calma cara! É que teve um engano!
- Antes ela era sua namorada e agora vai negar? Agora que ela está morta e não tem como se defender!
- Mas é verdade, a Lua de quem eu falava era essa aqui! – e passou um braço pelo ombro de Lua, que concordava freneticamente com a cabeça.
- O-o-olha! EusouaLuaqueeleveioprocurarmaseunãotavanoquartonahoraqueelechegou... – falou tão rápido e sem jeito que precisou parar pra tomar um fôlego – Meu nome é Lua Blanco. – e por fim estendeu a mão ao homem, que parecia mais calmo agora.
- Prazer. Sou John. – apertou a mão dela, mas continuou olhando desconfiado pra Arthur, depois o celular dele começou a tocar e ele saiu do quarto falando com o que parecia ser sua sogra. Ele fechou a porta e deixou o casal sozinho de novo, Arthur olhou pra Lua e abaixou a cabeça prendendo um riso, ela sacudiu a cabeça enquanto também sorria. Arthur pôs as mãos – já aquecidas – por cima das dela e lançou seu olhar quase hipnotizante nos olhos dela.
- Eu não saberia o que fazer se tivesse escrito Lua Blanco ali naquela ficha ao invés de Lua Rockfeller! Acho que eu ia começar a enfartar e depois me jogar da janela, aí durante o caminho até o chão eu começaria a ter convulsões e podia ser acertado por uma bala perdida! Aí eu caía no meio da estrada e um camin...
- Arthur! – ela tampou a boca dele colocando alguns dedos na frente – Ta certo que homem dramático é sexy pra mim, mas você ta exagerando hoje!
- Estou no meu momento romântico... de novo... dá licença?
- Ma... – ela estava rindo e ia falar algo, mas foi cortada também.
- Dá licença? Ótimo! O que eu quero dizer é que eu não me perdoaria se te deixasse escapar pela 153357º vez! Eu prometo não fazer mais nada que possa te afastar de mim de novo!
- Eu sei... só quero esquecer tudo aquilo.
- A gente pode voltar as cenas e dar play de novo de onde quisermos, só que aí fazemos tudo diferente.
- E você quer recomeçar de onde?
- Da última vez que estávamos felizes!
- A foda na praia?
- E lá se vai! Está arruinando todo meu romantismo. – ele cruzou os braços fazendo-a rir.
- Desculpe Sir!
- Já vi que hoje você ta querendo é falar menos e agir mais.
- Acho que já falamos o bastante. E eu senti sua falta. – ela sussurrou já com o rosto a milímetros do dele e passou o dedo indicador sobre o contorno de seus lábios antes de beijá-lo com força, vontade, malícia, alegria... Durante o beijo ela quis rir, porque nunca achou que estaria tão feliz depois de sentir uma dor desgraçada daquelas. Ela se afastou ainda prendendo o lábio inferior dele com os dentes e depois que o soltou ele riu.
- Até que pra uma assombração do inferno você beija muito bem!
- Eu andei treinando com Heath Ledger e Patrick Swayze... – ele apertou o nariz dela.
- Você ta muito do mal hoje!
- Foi você que começou me chamando de fantasma do inferno! Eu só entrei na brincadeira – ela deu um tapinha no braço dele, só pra não perder o costume. Depois olharam ao mesmo tempo para a porta que se abria.
- Hm, vejo que está bem humorada, Blanco. – o médico entrou falando ao vê-la sorrindo de orelha a orelha.
- Oi, doutor...?
- Burtton.
- Dr. Burtton, como ela está? – Arthur se levantou.
- A ultra-sonografia mostrou que o aborto foi completo, então não sobraram tecidos no seu útero. Eu só preciso de mais algumas horas até que a análise detalhada de seu exame de sangue esteja pronta e aí posso te dar alta.
Lua foi diminuindo o sorriso e Dr. Burtton saiu do quarto.
- Já tinha até esquecido porque que eu tava aqui mesmo... foi tudo tão de repente e só aconteceu pela minha falta de senso, noção, responsabilidade, ou sei lá! Matei um bebê, Arthur!
- Não fale isso. – ele a abraçou e beijou o topo de sua cabeça – Você não teve culpa. Se não fosse a Delilah ter te golpeado no abdômen, nada disso teria acontecido.
- Mas...
- Escuta, esquece isso ta bom. Faz o seguinte, passa uns dias lá no meu apartamento que a gente resolve esse problema fácil!
- Hm? Resolver?
- É ué, podemos encomendar outros milhões de bebês se você quiser.
- Opa! Vamo aí – ela fingiu que ia agarrá-lo só pra entrar na brincadeira. Mas não pôde agarrá-lo de fato, ele estava rindo demais.
- Me solta sua tarada.
- Eu sei que você gosta quando eu te pego assim! Peitinn – ela fez a brincadeira e ele fez careta com a mão sobre o mamilo beliscado.
- Mas então... vai lá passar uns dias no meu apartamento.
- Ah, não sei! To com a maior preguiça de...
- Eu não perguntei se você quer ir! Falei que tu vai!
- Ui, assumindo o controle!
- Só quero cuidar de você.
- Certo... – ela o olhou de canto de olho enquanto ele dava um selinho – Espera, mas você vai ter que buscar roupas lá em casa então.
- Tudo bem, eu peço ajuda pra Rayana ou pra Melanie.
- A Ray ta aí? Por que ela não veio me ver ainda? Melanie já veio aqui no quarto, por que ela não veio?!
- Sei lá. Talvez ela e o Pedro tenham achado a cantina mais interessante!
Quando Arthur acabou de falar, levantou preguiçosamente e deu um passo em direção a porta. De repente ela foi escancarada por quatro seres que pretendiam entrar todos ao mesmo tempo.
- Vai chegar alguém aqui pra brigar com vocês. – Mel estava atrás deles com Chay e fingia não conhecê-los. Sophia conseguiu entrar primeiro, por se espremer e ser a mais magrinha, depois Rayana também passou, isso aliviou um pouco mais o espaço e os outros dois não tiveram tanto trabalho pra entrar. Melanie entrou rolando os olhos e segurando a mão de Chay.
- Caramba, eu acabei de perguntar por vocês!
- É que nós só conseguimos chegar agora, teve uma droga de um engavetamento na estrada e ficamos parados um tempão! – Sophia resmungou sentando na beirada da cama.
- Quando eu vim pra cá tinha um caminhão virado e eu peguei uma bicicleta emprestada! Você viu Chay, eu acertei em pegar a bike! – Arthur riu vitorioso pro amigo.
- E a velha da bicicleta nem conseguia acreditar! Quanto você deu pra ela Arthur? Ela ficou pulando depois de contar as notas!
- Eu nem sei! E não sei onde deixei a bicicleta também!
- Que lesado o Aguiar! Dá zero pra ele! – Micael deu risada apontando o amigo.
- Ninguém dá zero não! Ele foi muito herói, muito divo se querem saber! – Lua pegou a mão dele e deu um beijo nas costas, como os cavalheiros faziam com as moças de alguma década perdida do século passado.
- Hum, vocês viram, né? Eu sou um divo agora, me tratem com respeito... Será que alguém pode me acompanhar até em casa? – Arthur abusando de seu charme feminino que só aparece quando ele está feliz.
- Já vai embora Arthur?
- Vou Soph... Passar na casa da Lu, – ele parou e olhou Lua com um sorriso – pegar umas roupas pra ela ficar uns dias lá em casa.
- Pode ajudá-lo Mel? – Lua pediu.
- E precisa de ajuda? É só pegar as suas roupas, ué...
- Ela não quer me ajudar! – Arthur deu um soquinho no ar e fez bico.
- Ta bom, seu chatinho, vamos lá sim. – ela riu e se virou pra porta.
- Me liga em casa quando receber alta – Arthur beijou a testa de Lua, entregou seu celular pra ela e se dirigiu à saída do quarto.
- Hey, me deixa em casa, cara! – Chay foi atrás deles.
Arthur foi andando na frente pelo corredor e se sentia feliz inexplicavelmente. Entraram no elevador, que estava vazio e a música que tocava lá dentro o fez rir e olhar para os outros dois.


Tonight you're falling in love
Let me go now
This feeling's tearing me up
Here we go now


Now if she does it like this
Will you do it like that?
Now if she touches like this
Will you touch her right back?
Now if she moves like this
Will you move her like that?
Come on, shake, shake
Shake, shake, shake it


Shake, shake Shake, shake, shake it (x4)


O elevador só abriu as portas de novo no andar térreo, algumas pessoas os esperavam e tiveram a grata surpresa de ver Arthur Aguiar com uma das mãos no quadril e o outro braço esticado pra cima, balançando a mão com dois dedos esticados pra lá e pra cá no ritmo da música.
- Shake, shake, shake, shake, shake it – ele cantava balançando a cabeça e a bunda sem perceber que já tinha chegado por estar de costas pra porta, virado para os dois amigos que riam... Alguém pigarreou e ele se virou num pulo. Sua face se tornou avermelhada na mesma hora, mas ele abriu um sorriso e acenou com a cabeça para as pessoas que o assistiam sair do elevador, sendo seguido por Melanie e Chay.
Como combinado, passaram na casa de Lu, pegaram as roupas, cremes, perfumes e maquiagens dela.
- Duvido que ela vá querer usar tudo isso! Está acabando de sair de um hospital! – Arthur observava as coisas que Melanie colocava dentro da mochila.
- Por isso mesmo! – ela o olhou e piscou.
- Arruma uma mochila também e vem pro meu apartamento hoje! Posso pedir umas pizzas. – Chay estava encostado na entrada do quarto.
- Não dá mafagafo, tenho faculdade. Que aliás, pelo jeito vou entrar atrasada... E depois vou ter que botar esse lençol pra lavar e esse carpete também. Espero que a dona Rayana chegue logo pra me ajudar.
- Então eu fico aqui até ela chegar. O Pedro provavelmente vai trazê-la e eu posso ir embora com ele depois.
- Ok! – Melanie terminou e entregou duas mochilas pra Arthur, uma com roupas e outra com os objetos de higiene pessoal.
- Mas é só daqui até segunda-feira! Ela vai mesmo usar tudo isso? – Arthur ainda examinava as mochilas cheias de coisas – Quantos quilômetros de pele e cabelos ela tem? Ela troca de pele?
- Cala a boca Arthur, cruzes! – Mel riu e apagou a luz do quarto, indo acompanhá-lo até a porta.
Arthur voltou ao seu condomínio pra deixar as coisas e arrumar um pouco mais o quarto, colheu dente-de-leão no jardim e depois ficou só deitado no sofá, olhando pro teto, terminando aquela música na cabeça... Quando Lua ligou, duas horas depois, ele foi buscá-la.


Ela estava tocando músicas do celular dele, quando ele encostou o ouvido na porta pôde ouvir e entrou cantando junto.
And they're turning off all of the lights
We've been putting on a show all ni-i-i-ight
boys will be boys...


Lua o recebeu sorrindo e ele a pegou no colo. Passou com ela pela recepção do hospital, cantando junto ao som do celular a música Take It Home.
- E então, estava tudo certo com seus exames?
- Uhum... Espero que tenha trazido minhas coisas direitinho! – ela apontou o dedo na cara dele e ele fingiu que ia mordê-lo. Já estavam de volta ao prédio e subiam pelo elevador. Quando as portas se abriram, puderam ver que tinha alguém na porta do apartamento de Arthur: Peter. Eles se aproximaram devagar.
- Pete? – o rapaz estava de costas e se virou com o chamado de Lua.
- Oi, eu... vim aqui pra... pedir desculpas.
Arthur apenas olhava desconfiado sem dizer nada pois estava primeiro questionando mentalmente o nível de sinceridade dele.
- Pelo quê mesmo?
- Eu agi em conjunto com a Delilah ontem. A gente combinou que ela não ia deixar você chegar ao local do show. Mas eu juro que não sabia que ela ia fazer tudo aquilo! Muito menos que você estava grávida! Eu te juro Lu!
- To muito chateada com você Peter! Porra, eu perdi o bebê por causa dessa porcaria que vocês fizeram!
- Eu sei, eu sei! Fui longe demais! Saiu do meu controle! Pode dizer o que quiser. Quando eu passei por aquela rua, a cena que encontrei me deixou revoltado! E... – ele agora voltou o olhar pra Arthur – desculpe pelo bilhete.
- Eu devia arrebentar a sua cabeça na parede. – Arthur falou e Lua o olhou de canto de olho, meio assustada. – Mas só porque minha garota está bem e eu to feliz, não vou fazer isso.
Peter apenas deu um meio sorriso.
- Como eu disse, to voltando hoje pra Oxford. Só passei aqui rapidinho antes de ir.
- Hm, boa viagem Pete. – Lua nem sorriu e nem ficou muito séria, apenas normal.
- Obrigado! – ele devolveu com um sorriso e caminhou até o elevador – E tratem de ficar juntos agora, ok? Seria vergonhoso pra mim se outra pessoa tentasse separar vocês e conseguisse!
- Não se preocupe com isso amiguinho. – Arthur acenou com um sorriso forçado, porém vitorioso. Manteve o sorriso até a porta do elevador se fechar e levar o Peter embora dali.
- Esse prédio é mesmo uma bagunça, todo mundo entra! Nem falo nada... – Arthur ficou resmungando antes de abrir a porta e Lua apenas ria.
- Caramba Arthur! Eu não acredito que você não foi capaz de arrumar a bagunça que eu fiz ontem! – Lua encontrou motivos pra rir mais após entrar. Lembrou de cada objeto em que seu bumbum teve a oportunidade de esbarrar e derrubar ao chão enquanto estava atracada com ele no dia anterior.
- Acho que a frase "Não repare na bagunça" nunca funcionou com você, né?
- E eu acho que a frase "Vai já arrumar seu quarto" também não funcionava quando sua mãe pedia, né?
Os dois sentaram no sofá e dessa vez não havia nenhum controle remoto jogado por ali. Milagre.
- Você ainda não me disse uma coisa. – Arthur se curvou, aproximando-se dela.
- Que?
- Eu não sei se eu ouvi errado, naquela hora foi tudo tão confuso...
- Fala logo! – ela sorriu e deu um tapinha no joelho dele.
- No telefone, você disse que só ia fazer isso porque pediram?
- Isso o que? – se fez de desentendida, mas já tinha lembrado o que era.
- Não sei, me dar uma chance eu acho.
- Hum... é, eu falei mesmo isso.
- E...? Quem foi que pediu? Melanie?
- Ela também. Aliás, eu desconfio que ela te ajudou o tempo todo, Aguiar!
- É, ela me ajudou sim! Principalmente no dia que eu invadi seu quarto.
- SABIA! SABIA QUE TINHA ALGUÉM NO MEU QUARTO! Seu tocador de guitarra sem vergonha... Mas então, voltando ao foco, você também teve uma ajudinha de mais umas vinte pessoas.
- Quem?
- Suas fãs.
- Mesmo?
- Uhum. Me pediram, foram até lá em casa!
- Wow!
- É!
- Engraçado!
- Incrível!
- Queriam que você me perdoasse?
- É, apareceram lá na frente de casa hoje com placas e tudo mais. Você devia agradecer por ter fãs tão sensíveis.
- Agradeço todos os dias. Agora vou agradecer mais ainda! – ele sorriu e depois se levantou – Quer comer alguma coisa? Beber?
- Tem biscoitos amanteigados?!
- Ha! Nisso você é igual ao Micael! – e ela riu tampando o rosto com uma almofada.
- Tem ou não tem?!
- Claro! Quem é amigo dos Blanco ou dos Borges não pode deixar de ter esses biscoitos e talvez uma Nutella pra acompanhar!
Ficaram conversando e comendo biscoitos com Nutella. Algumas horas passaram rápido enquanto eles falavam sem parar como se tivessem 10 anos de fofocas atrasadas. Só saíram de lá quando acabaram os biscoitos e a Nutella.
- Acho que acabamos com os estoques! Se amanhã de manhã o Micael passar aqui eu vou dizer que você comeu tudo!
- Mentira! Você comeu mais da metade aí enquanto falava de boca cheia!
- Que seja... mas vem aqui, quero te mostrar uma coisa! – pegou a mão dela e a fez levantar-se.
- O que? Ah sim! Você falou ao telefone que tinha surpresa!
- É, eu espero que ainda esteja tudo do jeito que eu deixei.
Enquanto caminhavam até o quarto, Lua passava observando a decoração do apartamento. Não teve chance de fazer isso direito no dia anterior. Estava bem bonitinho apesar da atmosfera totalmente masculina.
- Bom, isso era pra estar acontecendo ontem então... não repare se as flores estiverem um pouco murchas – ele falou pouco antes de abrir a porta. Quando Lua entrou, abriu um largo sorriso de imediato. Estava tudo perfeito, as flores pareciam ter sido colhidas agora. Lua viu um arranjo lindo em cima do criado mudo e algumas pétalas soltas em volta dele, meio bagunçadas e charmosas.
- Não posso acreditar que você comprou mesmo dente-de-leão! – essa planta estava no meio das outras flores no buquê, não tinha como não ver.
- É... na verdade eu comprei essas rosas, mas você falou de dente-de-leão ao telefone e depois de toda aquela coisa no terraço do hospital, eu resolvi pegar umas dessas pela vizinhança e colocar aqui!
- Isso foi a coisa mais incrível! – ela tocou a bola de pêlos branca e algumas sementes soltaram em seus dedos. Não assoprou para não sujar todo o quarto.
Ao olhar para o lado, Lua viu uma espécie de mural. Foi andando devagar até a parede e quando parou de frente pra ela, sentiu os braços de Arthur envolvendo-a por trás. Entrelaçou as mãos com as dele. Passou os olhos por cada coisinha que tinha ali enquanto sorria e tinha os olhos úmidos ao mesmo tempo.
Papéis coloridos cortados em quadrados pequenos estavam decorando a parede. Só havia isso, vários deles. Eram bilhetes. Amarelos, rosas, verdes, azuis...
Alguns tinham apenas carinhas felizes.
xD
^^
=]
Outros tinham algumas palavras, nomes de músicas conhecidas. I belong to you. I wanna love you. Put me back together. Havia uma seqüência vertical de bilhetes em papel azul, no meio. Cada um com uma ou duas palavras:
Espero
Que você
Ainda
Me ame
Essa noite
Porque deu
Um trabalhão
Da porra
Fazer isso!
S2 você!


- Isso é... eu não sei! Isso podia ser uma exposição!
- Você acha? Um monte de papel colado com fita adesiva transparente! Parece até idéia do Chay! – Arthur riu e Lua ficou de costas para a parede, virando de frente pra ele.
- Se o Chay tivesse umas idéias desse tipo eu ficaria com ele e não com você!
- Então vai correr pro apartamento dele, é aqui pertinho!
- Duvida que eu vá mesmo?
- Duvido radicalmente porque eu não vou deixar!
Lua fingiu que ia escapar dele. Arthur abriu os braços na frente dela e os dois ficaram como o goleiro e o cobrador do pênalti. Ela passou e ele a agarrou por trás. Os dois caíram na cama.
- Eu quero só ver você sair daqui agora!
- Aiae minha barriga!
- O que foi, eu te apertei? – Arthur se soltou dela assustado. Lua ficou sentada e riu apontando pra ele. Levou uma travesseirada no rosto por isso.
- Nunca mais me assuste desse jeito, foi golpe baixo!
- Você é que não sabe perder! Mas hey... o que é isso?
- Abre aí! – eles se referiam a uma caixa no meio da cama. Tamanho médio, papelão roxo.
- AH-MEU-DEUS! Santo protetor das fotos perdidas! São vocês, meus bebês? – Lua surtou vendo suas antigas fotos, as que ficavam na caixa rosa e foram queimadas.
- Não, não são os seus bebês! São os meus! Quer dizer, agora são nossos.
- Mas como?! Eu não sabia que você tinha essas coisas!
- Ué, tão simples... quando as pessoas tiram fotos, todo mundo fica com cópias. Não é assim que funciona?
- Claro que é, meu anjinho das cópias! Claro que é... – Lua concordou com o que ele disse, mesmo sem estar prestando muita atenção.
- Que tal parar com essa coisa de anjinhos e santinhos? Isso é assustadoramente gay.
- Quem guarda fotos em caixas coloridas só pode ser um anjinho!
- O que? Ah não, eu não quero ser o anjinho e elas não estavam guardadas aí! Estavam em vários álbuns, mas eu pus aí pra ficar mais ao seu estilo!
- E por que você não quer ser o anjinho?
- Anjinhos não fazem sexo? – respondeu em um tom óbvio.
- Sabia que você ia dizer isso, bem a sua cara! Mas hoje você vai ter que ser um anjinho Arthur, eu acabo de ter um aborto...
- Não, nem me lembre disso! Eu posso ser anjinho até quando você quiser, você sabe.
- Eu sei, meu anjo sexy!
- Ah, espera aí! – ele se levantou da cama e ficou perto da porta do banheiro, onde havia uma mesa de computador com alguns objetos bagunçados. – Pode fechar os olhos, por favor?
- Arthur... eu acho que não agüento mais surpresas por hoje!
- Ah, só mais essa! Você não quer que eu fique triste, quer?
- Ok... – Lua fechou os olhos diante da carinha triste que ele fez. Arthur tocou em uma linha de nylon quase invisível que estava presa embaixo da impressora. À medida que ia soltando a linha, uma bexiga ia descendo do teto. Ele foi soltando devagar. A lâmpada do quarto fica na direção do centro da cama, então Arthur pediu que Lua engatinhasse um pouco mais para a esquerda, assim a bexiga cairia bem em seus braços. Ela o fez, e sentiu a superfície lisa da bexiga.
- Pode olhar.
- Uma bexiga. Aniversário?
- De repente, hoje pode virar uma data especial. Estoura essa coisa aí! – Arthur estendeu a mão com um alfinete. Primeiro Lua olhou desconfiada e depois pegou. Antes de estourar a bexiga, viu que tinha algo lá dentro.
O barulho do estouro veio junto com um som metálico no chão. Fez o coração dela disparar e ela percebeu que estava com as mãos trêmulas. ‘Francamente Lua! Que palhaçada é essa? O que é que tem se depois de um monte de surpresas ele te aparecer com umas alianças? Nada de mais!’ ela pensava olhando para o chão. Viu uma coisa brilhar e pegou, eram mesmo alianças! As duas estavam presas para não se separarem. Eram as alianças que tinham os desenhos. Lua, sem pensar muito, pulou no pescoço dele sorrindo.
- Acho que isso me poupa da parte constrangedora e que me deixa nervoso, onde eu tenho que dizer aquela frase mágica te perguntando se você quer casar comigo, né? – ele sorriu depois que a garota o soltou.
- Ca-c-c-casar? – ficou surpresa porque aquelas eram as alianças de namoro, pensou ela.
- É... eu sei que as alianças estão erradas! Simples alianças de namoro... Mas eu já comprei um anel de noivado, entrego quando a sua mãe chegar da viagem dela.
- Comprou? – Lua estava com os olhos em choque, não prestou atenção em nada depois de comprei um anel de noivado.
- Claro. Não é difícil agir antecipadamente quando a gente sabe que a pessoa vai aceitar!
Ela pareceu acordar de repente e se desmanchou num sorriso. Pegou algumas pétalas que estavam em cima do criado mudo e jogou na cara dele. Em resposta, ele desmanchou dentes-de-leão na cabeça dela.
- Eu sou tão fácil assim? – e deu um tapinha no braço dele, que segurou o pulso dela e pôs o anel fingindo uma cena forçada. Como se a última coisa que ela quisesse fosse ficar com ele.
- Está vendo, agora não tem mais volta! Já pus um anel nesse dedinho!
 - Ai que tragédia! Agora eu to presa a um assassino em série de dentes-de-leão! O que vai ser de nossos 14 filhos quando você for condenado por isso? – ela observava a mão que estava com o anel e ainda tampava a boca com a outra mãoDepois riu e abandonou o tom de brincadeira, pegou o outro anel e colocou no dedo dele. Arthur deu leves tapinhas na cabeça dela pra retirar as sementes de planta que ele jogou. Lu não o deixou terminar e tomou impulso pra avançar sobre ele e fazê-lo cair deitado. Ela se apoiou com os cotovelos na cama e ficou com o rosto na direção do dele. Arthur via os cabelos dela caindo em seu rosto como uma cachoeira. Pegou uma mecha pra cheirar, ela usava um shampoo com um cheirinho viciante pra ele, é o mesmo que fica no travesseiro. Lua lhe deu um beijo e depois se ajeitou sobre seu tórax. Podia ouvir o coração... era música pra ela. Os dois ficaram quietos, mas nenhum deles estava dormindo. Perceberam uma corrente de ar fresco passando pelo quarto. Lua viu uma enorme e linda cortina sendo empurrada pra dentro do quarto pelo vento.
- O que tem lá fora? – ela se levantou, mas Arthur ainda a segurava pela mão.
- Ah, não... Só tem uma rede!
- Rede?! Eu quero!
Foram até a pequena área que havia ali. Encontraram uma rede como Arthur disse, e um violão encostado no canto.
- Eu nunca dormi numa rede! – os olhinhos dela brilhavam. Ele se sentou e deitou, ela deitou junto, com a cabeça sobre o peito dele e naquele balanço suave que só uma boa rede sabe fazer, eles não demoraram a dormir. Lua foi rapidamente envolvida num sonho.


Sol, parque, crianças brincando... Isso está parecendo até um dia de domingo. Eu andei pelo meio das crianças, uma menina loira pulando corda, um cachorro simpático, uma menina com um grande sorriso no escorregador, várias crianças amontoadas naquele brinquedo de armação metálica onde elas apenas sobem, outras crianças faziam fila pra ficar nos balanços. Eu me senti criança! Tive vontade de sentar naquele brinquedo que gira, eu adorava quando tinha meus seis aninhos! Oops! Andava distraída e me bati com um menino.
- Precisa olhar mais pra baixo pra não bater nas crianças pequenas. – ele me respondeu sério, parecia até um adulto! Acho que fiquei com medo dele... brincadeira. Ele devia ter uns oito anos, eu acho.
- Desculpe menino! Foi sem querer.
- Menino não! Eu já vivi muito e sei de muitas coisas. – crianças metidas a espertas! Crianças assim viram políticos!
- Muitas coisas?!
- Sim. Eu sei de tudo.
- Tudo de quê?
- Tudo de tudo.
- Como pode saber tudo? Não tem nem tamanho pra entrar na faculdade!
- Eu não preciso disso! Minha bisavó me disse que eu sei de tudo agora porque eu ainda não conheci o mundo. Dentro de poucos anos conhecê-lo-ei, e então tudo esquecerei.
Certo, agora esse garoto me assustou. Quem é a mãe desse louco? É um anão?
- Você é anão? – aproximei meu rosto do dele e devia estar com cara de retardada. Acabei vendo que ele tem belos olhos e uma pele de porcelana, sem manchas ou sinais.
- Eu não sou anão. Eu estou ficando mais novo e dentro de poucos anos vou esquecer todas as coisas que sei do mundo, pra reaprender talvez 10% do que sei hoje. Me tornarei burro e vazio como uma folha de sulfite, e durante a minha vida essa folha nunca vai terminar de ser preenchida.
Eu continuava olhando desconfiada pra ele. Guri estranho.
- Cadê sua mãe?
- Não conheço ainda. Disseram que irei vê-la daqui a 172521736512627317373 minutos.
- Você foi criado por algum fanático em Star Wars?
- Existiram exatamente 182.625.267 fanáticos por Star Wars. Alguns já morreram e alguns ainda vão nascer.
- Você é o cara mais estranho que eu já conheci... mas eu gostei de você! – peguei na mão do menino e me senti feliz. Tive vontade de sorrir. Nós caminhamos juntos e sentamos num banquinho.
- Eu posso responder qualquer coisa que você perguntar!
- Sei...
- Faz uma pergunta.
- Vou pensar. – como é difícil pensar numa pergunta assim sem mais nem menos! – Qual a chance de eu estar ouvindo nos fones a mesma música que uma outra pessoa no mundo na mesma hora?!
- Às vezes a pessoa do seu lado pode estar ouvindo, já aconteceu. A chance é de 4,132%
- Puxa, impressionante... mas como eu vou saber que isso ta certo?
- Você ainda não acredita que eu sei tudo?
- Ah, sei lá... eu acho que eu to sonhando e...
- Eu posso responder uma pergunta que todos os poetas na Terra já tentaram. Ninguém nunca acertou porque a resposta é simples e eles sempre queriam enfeitá-la. Pode ser que a pessoa diga, mas nem percebe de tão insignificante que é a resposta.
- Mas que raio de pergunta é essa?
- O que é o amor. Você quer tentar responder?
- Isso parece muito fácil pra mim. Eu amo, eu sei.
- Não é só porque ama que você vai saber... Eu sei que você amou um menino na sétima série e que a sua vida virou de cabeça pra baixo a partir dali! Ah, mas enfim, pode falar.
Oi? Como ele sabe do Arthur?
- Ah... é uma coisa que te faz perder a respiração e a fala!
- Não, o nome disso é bronquite asmática.
Eu hein! Franzi as sobrancelhas e olhei pra ele... Guri estranho²! Vou pensar em outra resposta.
- Hm, o amor te faz sair do chão e te transporta para lugares que nunca tinha visto!
- O nome disso é avião. O amor é outra coisa.
- Ok... Amor é uma coisa que chega de repente e te transforma em refém.
- Isso aí e S-E-Q-U-E-S-T-R-A-D-O-R! Tente de novo.
To ficando irritada. Vou ser presa se bater num menininho? Ai, bem que me deu uma vontade de sentar a mão no garoto irritante, mas eu não consigo mover minha mão pra ser violenta com ele... não sei por quê.
- AMOR – comecei quase gritando e soltei o ar antes de continuar – é uma coisa que deixa seu aroma por onde passa.
- Pra ser honesto... amor não deixa aroma nenhum. Só as vacas com diarréia é que deixam!
Eu ri. Esse menino é foda.
- Desisto. Pode falar então a sua digníssima resposta.
- Como eu disse, é algo simples. Todo mundo sabe, mas é uma resposta tão simplória que ninguém nem percebe. Amor é algo que não...


***


- Vai logo! Vão cercar a gente! – dava pra ver os reflexos azuis e vermelhos do carro da polícia chegando perto.
- Que mané cercar o que! – ela pisou mais no acelerador, se é que isso é possível e passou num pedágio levando embora aquele bracinho automático que fica na frente, que naquela hora pareceu feito de isopor. Eu entendi bem? Estamos fugindo da polícia?
- Lua, por que a gente ta fugindo mesmo? Estão atrás da gente?
- Claro que estão! Somos procurados por todo o país, caso tenha esquecido Aguiar!
- MAS O QUE A GENTE FEZ?
- Arthur, não é hora pra perder a memória! Não me desconcentra caraíí!
- Espera aí! Quem diz isso o tempo todo sou eu! E de onde você tirou esse Nissan GT-R turbinado desse jeito? – eu não lembro de minha namorada ter um desses! Não mesmo.
- E AGORA! PEGO A PONTE OU O TÚNEL? VAI, ME DIZ O QUE ACHA, RÁPIDO! – ela ignorou minha pergunta e me pôs em pânico.
- PONTE! – gritei! Surtei! Já estava desesperado num carro a mais de 200km/h numa contra-mão!
- AAAH NÃO, A PONTE TA EM OBRAS! VAMOS MORRER! – ela começou a gritar e tirar as mãos do volante pra levar à cabeça. Eu também não sabia fazer outra coisa vendo aquelas barreiras avisando a obra na estrada. Lua passou com tudo jogando aquelas barreiras pra longe... Por que tudo que ela passa voa longe como se fosse de isopor? Não sei. Só sei que do nada aquela estrada acabou e nosso carro estava voando pelos ares... a porta do meu lado se abriu e eu caí pra fora, ESTOU VOANDO! VOU CAIR!




A claridade do sol que nascia já estava batendo no rosto de Arthur. Ele levantou agitado e gritando, se esquecendo que estava numa rede e acabou caindo no chão. Lua acordou assustada com o agito.
- OMFG! Você ta bem? – ela não caiu junto por sorte e ficou observando o menino se levantar fazendo careta.
- Ouch... sonhei que a gente tava no Need For Speed. – ele falou com as mãos nas costas e ela gargalhou – Sério! Fugindo da polícia!
- Ai Arthur... me tirou do meu sonho perfeito por causa disso?!
- Sei lá, me assustei porque o nosso carro saiu voando e acordei antes de cair no chão. – ele esfregava os cabelos com a cara amassada.
- Tem certeza que foi antes de cair no chão? – ela se ajeitou pra ficar sentada e começou a rir.
- É, agora eu sei... foi você que fez a gente voar pelos ares! Você tava dirigindo.
- Quem voou pelos ares aqui foi só você... da rede até o chão! – ela ria descontrolada da cara dele e ele foi até lá pra fazer-lhe cócegas até cansar. Acabaram caindo os dois por conta daquela agitação toda e ficaram no chão recuperando o fôlego.
- Desculpa Lu, o médico falou pra você ter repouso e olha o que eu faço, te derrubo da rede!
- Ta tudo bem, Arthur... Você já reparou que estamos virando peritos em acordar na hora que o sol ta nascendo?
- Uhum! Deve ser porque a gente às vezes não dorme debaixo de tetos como pessoas normais. – ela deu um sorrisinho e ele logo se levantou, depois ajudou Lua a se levantar também – Fica aqui sentada na rede!
Ela não disse nada e sentou na rede, observando o que ele fazia. Arthur caminhou até um canto, pegou o violão que estava ali encostado e sentou no murinho. De início, Lua ficou com medo que ele caísse dali, mas sua atenção foi desviada para os acordes e frases que ele começava a cantar.




I'd be lying through my teeth if I told you
(eu menti quando disse a você)
That I'm ok
(Que eu estou bem)
July came I thought I had it all together
(Quando chega Julho, eu penso como estávamos juntos)
Until you said
(Até você dizer)
I need some space
(Estou sufocada)
Truth be told
(Verdade seja dita)
It's so hard to wait
(É muito difícil esperar)




‘Ele não existe! Como pode uma criatura cantar tão lindamente depois de ter caído da cama, literalmente?!’ ela pensava enquanto o observava com o olhar de cachorrinho vendo o frango da padaria girar. Não queria nem piscar pra não perder um segundo daquilo. Arthur sentado ali, cantando e olhando pra ela, a luz do sol que estava nascendo batia nos cabelos dele, deixando-os mais vivos ainda.




One eye on the clock
(Um olho no relógio)
And one on the phone
(E o outro no telefone)
It's 5:19
(São 5:19)
I'm feeling alone
(Estou me sentindo sozinho)
If I could talk to you
(Se eu pudesse falar com você)
I'd wanted you to know
(Eu queria que você soubesse)
I'm holding loose
(Que estou me sentindo sozinho)
But ain´t letting go
(Mas não estou indo embora)




Os olhares deles se encontravam às vezes e eles ainda tremiam com isso... ‘Quero olhar pra ela e me sentir assim até daqui a sessenta anos!’ ele pensou e mostrou seu sorriso de um milhão de dentes. Lua curtia a música e começou a sentir seus olhos úmidos. ‘Deve ter a ver com a gravidez, devem ser os hormônios! Por que eu estou ameaçando chorar quando era pra eu sair dando estrelinhas?’




We both know that I could think myself dizzy
(Nós dois sabemos que eu poderia me achar louco)
Right now I´m spinning around
(Agora mesmo estou sem direção)
And you said, "baby don´t worry"
(Eu sei que você disse, "Meu amor, não se preocupe")
But I just miss you right now
(Mas eu sinto sua falta agora)
I say I miss you right now
(Eu disse que sinto sua falta agora)


One eye on the clock
(Um olho no relógio)
And one on the phone
(E o outro no telefone)
It's 5:19
(São 5:19)
I'm feeling alone...




- HEY AGUIAR FILHO DA PUTA ! QUE BARULHEIRA DA PORRA É ESSA LOGO DE MANHÃ? – o som foi interrompido por uma voz conhecida. Era Chay gritando na janela ao lado.
- Calma Chay! É só uma música pra Lua, ela merece!
- Então toca mais baixo! Ou espere uma hora decente...
- Desculpe, é que o meu amor por ela é algo que eu não consigo esconder!
Na hora que Arthur falou isso, Lua lembrou do sonho. Será que era isso que o menino ia dizer? Amor é algo que não dá pra esconder. Realmente não dá!
- É isso! – ela disse com um sorriso.
- Lu?
- Hum?
- Tudo bem?
- Uhum!
- É que eu perguntei se você queria que eu continuasse tocando...
- Ah, sim! Termine a música. Depois eu te explico porque fiquei assim, tive um sonho louco!
Arthur assentiu e voltou a posicionar os dedos nas cordas do violão.


...If I could talk to you
(Se eu pudesse falar com você)
I'd wanted you to know
(Eu queria que você soubesse)
I'm holding loose
(Que estou me sentindo sozinho)
But ain´t letting go
(Mas não estou indo embora)


Baby, take all the time you need
(Baby, demore quanto tempo você precisar)
I just want you to know
(Eu só quero que você saiba)
I'll be here, waiting
(Que eu estarei aqui, esperando)




Enquanto ele tocava, ela ficou pensando no que era o amor. Teve certeza que agora a resposta estava certa, mesmo sem o menino estranho pra confirmar. E como ele havia dito, as pessoas falam essa resposta sem nem perceber. Não é complexa e nem poética, é só... a verdade. Não podemos esconder quando amamos alguém.




With one eye on the clock
(Com um olho no relógio)
And one on the phone
(E o outro no telefone)
It's 5:19
(São 5:19)
I'm feeling alone
(Estou me sentindo sozinho)
If I could talk to you
(Se eu pudesse falar com você)
I'd wanted you to know
(Eu queria que você soubesse)
I'm holding loose
(Que estou me sentindo sozinho)
But ain´t letting go
(Mas não estou indo embora)




Arthur tocou as últimas notas ao fim da música e Lua batia palmas.
- Gostou? – ele se aproximava.
- É, mais ou menos, vai fazer um sucessinho... – ela sorriu ao terminar com a ironia.
- Tudo bem, nem fiz pra você mesmo – respondeu com mais ironia e ela deu a língua enquanto ele se sentava ao lado dela.
- Eu amo você, sabia? – Lua encostou a cabeça no ombro dele, que pôs a mão sobre os cabelos dela.
- Eu sempre sei de tudo, acostumei até.
- Ih, parece alguém que eu conheci hoje... – ela levantou a cabeça de onde estava apoiada e estreitou os olhos pra ele. Achou alguma coisa no olhar de Arthur parecido com o do garoto do sonho.
- Quem você conheceu hoje?
- É que eu tava num sonho muito engraçado agora.
- Eu apareci nele?
- Não. Mas tinha um menino que disse que a minha vida ficou de cabeça pra baixo quando eu vi um garoto entrar numa sala de sétima série – Lua olhava pra dentro daqueles olhos tão parecidos com os do garoto do sonho. Parecia que estava sonhando de novo.
- E a minha virou um monte de músicas depois que eu vi uma garota passar olhando pra mim!


Fim
[n/a: Enganei? Aposto que sim, num acabou ainda hehahehahaeheh que mala, pode me esganar :B mas antes, lê a parte que falta, ok?! Eu avisei que ia ser grande o capítulo? Ah, avisei OAIOAIAOIA! Pode botar pra carregar We'll Never Know se quiser, foi a música que me fez pensar na cena que começa daqui a pouco *-* mas nãão é ainda a música que falei na nota do começo do capítulo, aquela é oooutra e vai tocar mais adiante. Pov Lua.]


Três Anos depois


- Estamos aqui hoje reunidos... – o padre começava sua fala decorada que ele já deve ter dito mais de dez mil vezes. Eu não sei se estava mesmo abafado naquele lugar, ou se era a minha ansiedade trabalhando de dentro pra fora, mas eu comecei a transpirar. Um suorzinho modesto podia ser visto na raiz do meu cabelo e eu comecei a ficar inquieta!
- Mas que diabos... – eu cochichei em tom de irritação e Arthur forçou levemente seu cotovelo na minha costela.
- O que você tem? Seja uma boa madrinha e fique em estado vegetativo enquanto o padre fala! – ele sussurrou entre os dentes. Nem respondi mais nada. Eu li o manual de como ser uma boa madrinha, ok? Só que é meio difícil manter o sorriso e o salto alto quando se está num local abafado, sem saber que hora o padre vai terminar de falar e tendo que equilibrar dez quilos a mais no seu peso. Sim, eu estou grávida e dessa vez não houve dúvidas como na primeira. Minha barriga está enorme, já está perto de nascer! É uma menina, e ela vai ser grande pelo tamanho da minha barriga! Talvez vire jogadora de basquete... Não sei nem como Sophia me escolheu pra ser madrinha, com esta pança gigante. Certo, ela me ama! Eu a amo também, foi madrinha quando casei com Arthur ano passado.
- Eu vos declaro marido e mulher – É, finalmente a cerimônia terminou. É tão emocionante ver minha amiga se casando com meu primo! Eu estou a ponto de chorar aqui! Gente, eu me lembro deles desde criança juntinhos... relaxa Lu, não chora. Olha a maquiagem. A verdade é que quando estou grávida fico muito mais chorona. Não sei se as outras mulheres são assim. Agora eu entendo por que eu chorava tanto na época da minha primeira gravidez, que eu nem sabia. Ok, não vamos lembrar daquela fase, já passou. Ficou tudo lá atrás. Eu e Arthur fizemos nossos votos, prometemos ser verdadeiros, amar, respeitar e todas essas coisas. Não há outra pessoa com quem eu poderia estar melhor. Ainda sinto o coração batendo forte como no primeiro dia. Acho que não virei um queijo suíço, afinal!


- ...E eu acho que o meu amigo Micael sempre serviu como um grande exemplo pra mim, ele me fez acreditar que nem tudo ta perdido e o amor existe. Não está aposentado nem fora de moda. É só você se permitir. Eu soube no dia em que flagrei os dois no banheiro que não muito tempo depois eu assistiria o casamento! Ah, sim! E que flagra no banheiro, huh! Desculpe Micael, mas um dia eu teria que contar isso... – Arthur estava deixando as suas palavras aos noivos com emoção e bom humor. O local da festa era uma chácara. Já ouviram falar numa coisinha que é filme em preto e branco? Aqui eu me sinto num filme verde e branco. Sério. O gramado se estende impecável por todo o território e todas as cadeiras, mesinhas e flores são brancas. A decoração está linda e as músicas são animadas. Agora mesmo começou a tocar uma do Lifehouse, minha amiga é muito chique! Tinha que ser minha BFF.


[n/a: opcional tocar We'll Never Know. Pode deixar em volume baixo, pra parecer o som da festa aheuheua o/]


Quando Arthur terminar de falar será minha vez. Ontem à noite eu fiquei pensando em um monte de coisas que poderia falar, até me emocionei! Arthur me viu com os olhos aguados e perguntou o que era. Eu disse que era um pouco de emoção e um pouco de frustração comigo mesma porque já sabia o que ele ia falar e não consegui um texto bom como o dele. Nós sabemos que ele é bom em falar coisas bonitas. E nós sabemos que eu não sou. Então não conte pra ninguém que ele escreveu pra mim algumas coisas que eu pudesse falar. Em outras palavras, ele me passou uma colinha! Vou confessar aqui, me senti na época em que nós estudávamos! Eu fazia pra ele as colas de biologia e ele as de matemática. Sophia não precisava colar em nada, mas ajudava a gente nas horas de sufoco. Ótima parceria. Ótimos tempos. Mas agora os tempos também estão... aw! Alguma coisa aconteceu. Senti uma pontada, umas queimações loucas e acho que to melecada (eww!). Eu juro que não mijei e também não estou com diarréia. É pior que isso. Imagine o que pode ser pior do que mijar no meio do casamento da amiga. É, acertou. É dar a luz no meio da festa.


Lua’s point of view OFF


- Arthur... – Micael chamou pedindo sua atenção, mas ele ainda falava e fez sinal que esperasse com a mão.
- E esse não é só um final feliz, é um recomeço. Vai por mim Micael, o primeiro ano é tudo maravilha! Eu ainda não sei como é que vai ser o segundo, então não posso dizer. Isso vai depender da abelha rainha aqui...
- Então eu acho melhor você dar uma olhada na sua abelha rainha! – Micael apontou para a prima, que dobrava o corpo levemente para frente com um dos braços sobre a barriga.
- Lu, Lu, o que ta acontecendo? Está na hora? – está na hora? pergunta mais comum dos maridos para suas mulheres nesse estado. É tão óbvia a expressão no rosto de uma mulher quando “está na hora”, por que eles precisam perguntar?
- Faz alguma coisa Arthur, me tira daqui! – Lua puxou o braço de Arthur e tentou falar baixo no ouvido dele, mas já estava com dores e sua voz saiu um pouco mais alta do que ela queria.
Fato 1: Lua morreu de vergonha dos outros convidados. Fato 2: Ninguém sabia o que fazer.
- Lua não perde a classe amiga, faz aquela respiração que te ensinaram – Rayana ficou de pé ao lado dela.
- Respiração é o caralho eu quero ir pro hospital!
- Eii, não seja mal educada Sra. Aguiar! Você quer que a sua filha cresça falando assim? – Melanie também ficou de pé e pôs as mãos nos quadris.
- Não! Ela só vai falar palavrão depois dos quinze anos. – Lua falou em meio à respiração ofegante. Cada palavra era arremessada pra fora da boca como se ela estivesse expulsando-as.
- Vamos, segura no meu ombro. – Arthur se abaixou perto dela. Ele a ergueu em seu colo e começou a andar. No começo foi difícil equilibrar, mas logo conseguiu ganhar velocidade. Arthur corria com Lua nos braços, movido certamente por alguma força sobrenatural. Sophia corria um tanto desajeitada atrás dos dois com seu véu esvoaçante. Micael corria atrás dela segurando a calda enorme do vestido e mais atrás vinham Pedro, Chay, Rayana, Melanie e todas as pessoas da festa. Até o padre seguiu o fluxo também. Corria lá em último, por conta de sua idade avançada.
- Ai Lua, amiga, boa sorte! – Sophia chegou na janela do carro onde Arthur colocara Lu e as duas uniram as palmas das mãos pelo vidro, deixando-o embaçado em poucos segundos devido à temperatura corporal elevada pela adrenalina. Por alguma razão, as duas tinham os olhos cheios de lágrimas. Quando o carro se afastou, Soph ficou com as mãos na boca e suas lágrimas despencaram pesadas feito pedrinhas de diamante. Micael a abraçou e deu-lhe um beijo na cabeça, em seus cabelos fofos.


Ao chegarem no hospital, Arthur preferiu esperar do lado de fora. Dentro da sala, Lua não demorou muito pra ouvir um gritinho agudo e desafinado. Era ela. Aquela a quem ia despejar todo seu amor e proteção dali em diante. Porém quando Lua pensou que estava tudo tranqüilo e encostou a cabeça para trás, se houve dez segundos de sossego foi muito. Logo aquela dor arrebatadora voltou a queimar sua barriga. Imagens de prédios em chamas passaram pela cabeça de Lu e ela quis muito rir com isso, mas com a dor que sentia, forçar a musculatura do rosto pra sorrir elegantemente era exigir demais. O médico se esticou um pouco pra falar com ela e com alguns gestos explicou que havia mais um, então pediu que ela fizesse força outra vez. Lua nem pôde acreditar. Como assim mais um? Sentiu vontade de fechar as pernas e impedir que a coisa saísse, imaginando que podia ser o seu útero ou rins, de tanta força que fez anteriormente. Poucos segundos e mais um chorinho desafinado preencheu toda a sala. O choro cessou por alguns segundos enquanto a criaturinha encarava a mãe com olhos grandes. Esse já sabia mandar olhares profundos! Sim, era um menino! E Lua agora conseguiu sorrir, virando a cabeça pra trás de olhos fechados.


Alguns instantes depois, o médico foi chamar Arthur. Ele estava sentado com os cotovelos apoiados nas coxas e balançando as pernas, tenso. O médico apenas sorriu quando Arthur levantou o olhar pra ele. Fez um gesto com a mão: Dois.
A princípio, Arthur não captou a mensagem. Por que ele fez dois com a mão? Vendo a cara confusa de Arthur, o doutor pediu que o rapaz o acompanhasse. Durante o caminho ele teve um baque. Percebeu que aquele dois só poderia significar uma coisa. Houve um espasmo gigante seguido de paralisia em seu corpo todo. O doutor riu de novo e abriu a porta do quarto, onde puderam ver Lua segurando um bebê em cada braço. Arthur esfregou todo o rosto e ficou parado na porta, achou que fosse alguma brincadeira. Quando deu por si, o médico já havia adentrado ao quarto e estava parado ao lado de Lua, falando com ele.
- Ande logo com isso! Tem duas pessoas ansiosas aqui, pai!
Arthur sacudiu a cabeça e teve um tremilique ridículo pelo corpo todo ao ser chamado de pai. Pela primeira vez ele estava oficialmente nessa condição. E em dobro.
- Lua, que surpresa foi essa? – sua voz saiu um pouco falha.
- Eu também não sei Arthur! O nosso pobre menino estava lá o tempo todo e a gente não sabia!
Arthur olhou pro médico mais confuso ainda.
- O erro foi meu, eu peço desculpas. Acontece que o espaço ficou pequeno dentro do seu útero e o rapaz aqui estava sempre escondido atrás da irmã na hora de fazer ultra-som. Eu vou deixá-los a sós. Os senhores têm dez minutos e depois os bebês serão levados para fazer alguns exames.
O médico saiu e Arthur olhava dez segundos pra um, depois dez segundos pra outro, não sabia em qual parava o olhar.
- Arthur.
- Hein?
- Temos um pequeno problema.
- Problema? Não temos problema algum Lua, nós tivemos gêmeos! – ele quase pulou ali. Até os bebês se assustaram, mas eles ainda iam se acostumar com o jeito eufórico do pai.
- Ta bom, não é um super problema. É um probleminha. Não escolhemos nomes de menino. – ela terminou de falar e a cara dele se tornou pensativa.
- PUTAFODEU! Também precisamos dos móveis dele, das roupas dele, do leite dele! Você tem leite pra ele, né? A gente ta ferrado!
- Calma Arthur! O pior já passou... Agora é só comprar mais fraldas, mamadeiras, outro berço e roupinhas azuis!
- É! Então, eu vou comprar as coisas Lu, não se preocupe! Só relaxa aí e pensa no nome. Vai falando nomes até que ele demonstre alguma reação, é uma forma de dizer que foi ele quem escolheu. Se bem que eu não acredito muito nisso, mas enfim...
- Tudo bem. Não se preocupa Diego, o papai vai trazer tudo que você precisar.
O menino sorriu e se agitou.
Arthur viu que o nome foi escolhido e saiu em seguida. Lua teria alta em três dias já que ela e os bebês estavam bem. Era o tempo que ele tinha pra arranjar tudo.


Cinco meses depois


[n/a: Play 5:19 do Matt Wertz]
Alguma hora da manhã. Lua acordou sentindo algo úmido na mão que estava caída pra fora da cama. Era Sushi, uma cadelinha filhote da raça labrador que eles ganharam de Micael. Sushi lambeu as pontas dos dedos de Lua e ela custou a abrir os olhos. Quando o fez, percebeu o outro lado da cama vazio. Ela lembrou que era a noite de Arthur ir socorrer os pequenos se um deles chorasse. Levantou sonolenta e cambaleou até o corredor.


• Pequena visualização do corredor •
Ao sair do quarto ela olhou para os dois lados. O corredor do segundo andar contava com cinco quartos e nas paredes vários quadros em diferentes alturas. O quarto dos gêmeos era o último, o que fica de frente pra quem chega na escada. O casal ficou com o quarto da segunda porta à direita, bem próximo ao dos bebês.


Lua entrou no quarto devagar e logo pôde ver Arthur dormindo sentado numa poltrona macia com um bolo de pano nos braços. Chegou mais perto e constatou que enrolada nos tecidos estava Roberta. Pele rosada, cabelos da mãe, olhos do pai, nariz da mãe e lábios do pai. Curiosamente Roberta tem uma marca de nascença que é parecida com o desenho de uma maçã. Tem a cor de bronze, é como uma ilha no meio da pele clara ou, pra quem tem muita imaginação, como um montinho de areia no meio da neve. Um adorável desenho bem no meio de seu fino pescoço, absurdamente no mesmo lugar onde Lua tem uma tattoo. Ela preferiu chamar de coincidência, sem pensar muito nisso.
Após pegar Roberta dos braços do pai cuidadosamente e colocar no berço, ela observou Diego por uns minutos. Este não nasceu com marca alguma, sua pele era clara e limpa como um tecido que foi lavado por profissionais. Podia estar muito cedo pra isso ainda, mas Lua achava que há no mundo dois tipos de pessoas que têm chances de sucesso na vida: As espertas e as inteligentes. E já classificando os dois, Roberta tinha cara de ser a esperta e Diego o inteligente. Lua já imaginava Roberta implicando com ele “Eu sou um minuto mais velha, me obedeça!” E sorriu com o pensamento, mal podia esperar pra ver essa cena.
Arthur ainda dormia pesadamente na poltrona e ela se aproximou. Ao tocar a pele do braço dele percebeu que estava frio e pegou um cobertor de bebê no armário. Tinha de cuidar dele, afinal foi quem lhe deu seus maiores presentes. Nesse momento, as pessoas que estavam ali no quarto eram as mais importantes do mundo. Lu ficou observando como ele respirava calmo e as vitaminas da luz do sol que nascia deviam estar penetrando-lhe a pele do rosto. Vários pensamentos se passavam a todo instante na cabeça dela. Lembrou de quando conversava com Sophia sobre o cara mais lindo que ela já viu e agora ele é simplesmente o seu marido. Lua pensou na palavra casamento e em como ela representa uma repetição. Todos os puxões de orelha que antes eram dados por seus pais, agora é papel de Arthur. Mas isso é pequeno e não importa. O importante é que ainda que o sol nasça milhares de vezes, e mesmo que sua pele crie algumas rugas, ela vai ter o corpo marcado por uma tatuagem no pescoço. Não importa o tempo que passe. Comparando sua tattoo ao seu marido, ela concluiu que Arthur foi a tatuagem que atingiu a mais profunda das dermes. O amor é a tatuagem que marca na alma e fica pra sempre.




FIM

Nenhum comentário:

Postar um comentário