quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Diário de uma anoréxica – Capítulo 4 – Decisão


    Uma minima idéia me disse que eu fiquei ali por uns 10 minutos, talvez mais.Eu só fiquei ali, sem pensar em absolutamente nada, sem sentir nada, num transe inexplicável. Só “acordei” quando meu corpo ficou dormente e meus dedos doendo. Levantei a cabeça e me sentei. Eu passava por uma crise pessoal muito forte. “ Meu namorado me deixou, meu amigo me traiu,e provavelmente não vou voltar a fazer o que eu gosto... Eu preciso de alguma coisa pra me segurar, um objetivo, pra coseguir passar, e nada como unir o útil ao agradavel, vou emagrecer” 

A partir daquele momento, minha decisão estava tomada. Não importa o quanto ia doer, eu cansei de ser gorda. Me levantei dali e tomei um banho descentemente. Meu corpo ainda doia e eu estava cansada, mas a tontura já tinha passado. “Não quero ser magrinha, quero ser magérrima” pensei comigo mesma. Quando terminei de tomar banho e vesti minha roupa, fiquei encarando minha imagem no espelho. Meu rosto estava pálido, meus olhos avermelhados e tinha olheiras Mas o pior era que eu estava gorda, inaceitávelmente gorda. Terminei de me vestir, e arrumei o banheiro. Depois subi pro meu quarto e peguei uma caneta e uma agenda antiga. Na última pagina, escrevi

“ Objetivo: emagrecer

Metas:

(X) 47 kg

( ) 45 kg

( ) 40 kg

( ) 35 kg”



Depois circulei a o número 35 e escrevi logo abaixo “Aqui provavelmente está a perfeição

Guardei a agenda na gaveta da comoda e liguei a TV. Não tinha nada de interessante passando, mas eu tava aceitando qualquer coisa que não me fizesse pensar naquele dia. Abraçei as almofadas e fiquei ali, tentando enganar a mim mesma, e rindo de qualquer besteira.

Depois de algum tempo, ouvi o telefone tocar na sala, e fui apressadamente atender, já imaginando que era a Soph, preocupadissima

- Alô?

- Nossa! Até que enfim! Pensei que tivesse morrido! – ela disse, ironicamente

- Desculpa – eu dissem sorrindo fraco

- Huum, tá... como foi lá na agencia?

- Eu acabei não indo, minha perna tá doendo e não seria legal chegar lá mancando – eu disse, rezando pra ela acreditar

- Não ia pegar bem mesmo – ela disse rindo – mas porque você não atende o celular?

-Ele deve tá perdido em algum lugar, você sabe que ele adora fugir de mim

- Ah, tá bom então, só liguei pra saber noticias. Qualquer novidade me liga – ela disse se despedindo

Ouvir a Soph falando isso, me fez lembrar instanteneamente do que eu tinha visto naquela manhã. E isso fez meu coração doer muito, mas ela não merecia isso

- Tá bom, te aviso sim! Beijo – eu disse com a voz um pouco falha

Eu ainda fiquei com o telefone no ouvido, mesmo ela já tendo desligado. Era estranho passar tanto tempo sem nenhuma ligação do Arthur.

Subi de volta para o quarto e fui organizar meus materiais escolares. As aulas voltariam no dia seguinte. Eu estava um pouco ansiosa, mas não pelo fato da volta as aulas, mas para ver o Arthur, e saber se ficariamos juntos novamente. Isso já era tradição, estudamos juntos simplismente desde o inicio do colegial, até agora... metade do ensino médio.

Depois arrumei minha cama e fiquei ali, abraçada com minhas pernas, e pensando no sorriso dele, até pegar no sono, o que demorou um pouco.

Pouco mais de 5 da manhã acordei com um susto de um pesadelo. Nele eu via a Soph chorando muito, abraçada com o Arthur e minha mãe sentada no chão olhando fixamente para alguma coisa. Ela estava com o olhar triste, e olhos avermelhados. Mas era como se eles não pudessem me ver, depois quando eu me virei pude ver as pernas de uma pessoa, como se estivesse deitada no chão, mas não dava pra ver o rosto... foi uma coisa muito estranha. Quando acordei, fiquei pensando naquilo. Não sei o que significava (na verdade, eu até sei, mas não queria acreditar)mas resolvi esquecer aquilo e voltar a dormir. Tentativa frustrada. Só rolei de um lado para o outro. Resolvi me levantar e tomar um banho. Ajudou um pouco no CANSAÇO, mas não fiquei com sono. “Bom, pelo menos hoje eu não vou sair atrasada” pensei, ironicamente, enquanto procurava por uma roupa. Passei algum tempo pensando em alguma coisa que não me deixasse mais gorda ainda, e optei por uma blusinha rendada de mangas longas, calça jeans, All star e uma blusa de frio. Depois arrumei o cabelo e fiz uma maquiagem qualquer, só pra passar o tempo.

Olhei no relogio e ainda eram 6:30. Lembrei que o Arthur costumava me ligar a essa hora pra me apressar. Fiquei algum tempo ali, apoiando a cabeça entre as mãos e pensando. Eu sentia tanta falta dele, que o que ele fez parecia tão... insignificante.

Depois desci até a sala fiquei encarando a cozinha. Não ia quebrar minha dieta, mas se eu não comesse absolutamente nada, certamente ficaria tonta e passaria mal de novo. Resolvi fazer um chá, e comi com dois biscoitos de água e sal. Pronto, já era o suficiente.

Lavei minha louça, e enquanto enchugava o prato ouvi um som que fez meu coração dar pulos de alegria instantanemante. O toque do meu celular, que eu havia configurado exclusivamente para o Arthur. Larguei o prato sei lá aonde, e sai correndo, só pra confirmar o que eu já sabia. A foto do Arthur, nunca me pareceu tão linda, no visor do meu celular

-Alô? – eu disse quase sem ar

- Nossa, pensei que você não fosse me atender – ele disse

Ouvir a voz dele foi simplismente maravilhoso, nenhum chocolate no mundo poderia se comparar aquilo

- Ah, imagina Arhur– eu disse com meu sorriso bobo

- Huum... quer dizer que a senhorita não tá com raiva de mim?

- Raiva não – eu disse mas fui interrompida pela felicidade histérica dele

- Juuuuura? Tipo, sério mesmo?

-É... – eu disse completamente incapaz de ficar com raiva – sou muito fraca

- Que bom! Posso passar ai pra te buscar?

- Claro! – eu quase gritei

- Tá bom, Beijo

Quando ele desligou, eu cai numa crise tão grande riso. Era inexplicável ,mas eu ria como uma criança no circo, ria de felicidade mesmo. “Tá vendo como uma dieta mudou minha vida?” eu disse pra mim mesma, toda feliz, arrumando a prisilha no meu cabelo. Fiquei um tempinho tentando me distrair, arrumando detalhes bobos, só pra esperar aqueles intermináveis minutos passarem. Tentei de tudo... arrumar a sala, organizar os materiais, retocar a maquiagem, observar minha sombra... nada me distraiu.

Então eu desisti, me lembrando de que o Arthur não era nada pontual, peguei minha mochila e fiquei o esperando num lugar que sempre nos encontravamos. Joguei a mochila no chão e fiquei sentada debaixo da nossa árvore,esperando por ele. Mas ele me enganou mais uma vez...

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