30° Capitulo
Não sei dizer ao certo
durante quantas horas eu dormi. Na verdade nem sei se eu realmente dormi, a
maior parte do tempo fiquei encarando o breu a minha frente, amedrontada demais
para sequer pensar em dormir. A claridade já era visível por detrás das
cortinas, tudo estava silencioso, parecia que nem mesmo a rua lá fora estava
movimentada.
Eu não sabia que horas eram, eu tinha medo de me mexer e voltar a tremer sem controle, meu corpo continuava tão encolhido quanto na noite anterior, e eu continuava sentindo dores em algumas partes. Meus olhos doíam e pareciam estar inchados por ter derramado tantas lágrimas, mas eu ainda sentia algumas escorrendo por meu rosto vez ou outra.
Fechei meus olhos tentando fugir daquela realidade e comecei a sussurrar uma musica e me balançar calmamente enquanto abraçava minhas pernas.
"Eu andei por ai
eu vi o tempo passar
mas não vi muita coisa mudar
Foi quando algo em mim
me disse ficar aqui
Tudo vai continuar como está"
Depois da Chuva era a musica que eu costumava ouvir para me acalmar ou até mesmo para dormir. Eu sempre colocava ela baixinho em meu iPod e fechava os olhos para esquecer das coisas a minha volta.
"Tenho que achar
um jeito de mudar o meu caminho
Também errei mas tudo bem
Sempre podemos tentar de novo"
"Porque sei depois da chuva
sempre vem o sol
Tudo vai melhorar
Só o tempo pode por as coisas no lugar
Pra recomeçar"
Devo ter dormido por algum tempo já que quando abri os olhos novamente vi que os raios do sol entravam com mais intensidade pelas frestas da cortina.
Finalmente tomei coragem e me mexi um pouco podendo ver o relógio ao lado da cama que marcavam mais de dez horas da manhã. Senti meu braço doer quando me apoiei um pouco na cama e vi que perto do meu pulso tinha uma pequena marca roxa. Acomodei meu braço em frente ao meu corpo com medo de machucá-lo ainda mais e continuei deitada deixando minha cabeça vagar para qualquer assunto que me impedisse de pensar na noite anterior.
As horas foram se passando lentamente enquanto eu me obrigava a lembrar de coisas felizes até da minha infância. Minhas pernas já doíam por ficar tanto tempo com elas encolhidas, mas eu tinha medo até de me levantar. A casa permanecia silenciosa, mas eu não ousava destrancar a porta. Estiquei um pouco as pernas, mas continuei deitada encarando as paredes do quarto.
'Lu?' Uma voz um pouco longe me chamou e eu me encolhi novamente prendendo a respiração. Alguns segundos se passaram e eu achei que fosse minha imaginação, até ouvir a voz me chamando novamente.
'Lu, sou eu, Sophia. Você tá aí?' Meu corpo todo relaxou e eu senti uma pequena onda de felicidade só por ouvir a voz da Soph. 'Lu, abre a porta, por favor.' Ela mexia na maçaneta sem sucesso já que a porta continuava trancada. Pensei por alguns instantes se abria ou não, ainda tinha medo de Arthur estar por ali.
Me levantei sentindo minhas pernas fraquejarem e tive que ir me apoiando na parede para chegar até a porta. Quando abri a porta e vi Sophia sorrindo pra mim eu me joguei nos braços ela e comecei a chorar.
'Ai, Lu, calma.' Ela me abraçou forte e caminhou até a cama me sentando lá enquanto eu encharcava sua camisa. 'Tá tudo bem agora, amiga.' Ela passou a mão por meus cabelos me confortando.
Foi preciso quase meia hora para que eu finalmente conseguisse me acalmar. Me sentei encolhida de frente pra Sophia que me olhava séria. Eu ainda estava soluçando e me perguntando por que ela tinha aparecido por lá. Ela suspirou e segurou minha mão.
'Eu não sei o que aconteceu.' Ela respondeu a pergunta que martelava em minha cabeça. 'Mas acho que foi realmente grave pelo estado em que o Arthur estava.' Eu a olhei sem entender. Arthur tinha ido atrás dela?
'Ele foi lá na faculdade me procurar. Eu tava no meio da aula, mas ele parecia tão desesperado no telefone que eu inventei uma desculpa qualquer pro professor e saí da sala. Arthur tava lá fora sentado em um banco com as mãos cobrindo o rosto e quando eu cheguei perto eu realmente me assustei...' ela parou e me olhou um pouco aturdida.
'Ele tava chorando como uma criança.' Ela deu um risada de descrença. 'Ele nem me deixou perguntar o que tinha acontecido, só pediu pra eu vir pra cá porque você precisava de mim. E começou a falar coisas que eu não entendi direito, me pediu desculpas e depois começou a falar que não era pra eu desculpa-lo. E depois ainda disse que se você quisesse ele sumia da sua vida e da do Diego, que vocês iam ficar melhor sem ele.' Ela parou tomando fôlego. 'No final de tudo ele me deu as chaves dele e cá estou eu.' Ela deu de ombros deixando claro que não tinha entendido absolutamente nada.
'Brigada por ter vindo.' Falei apertando carinhosamente a mão de Sophia e sorrindo fraco.
'Então... eu vou saber o que aconteceu?' Ela perguntou receosa e eu mordi o lábio já sentindo as lágrimas encherem meus olhos.
'Desculpa, eu não sei se consigo' Falei já chorando e Sophia me abraçou.
'Tudo bem, não precisa falar agora. Só fala quando você se sentir bem.' Ela sorriu fraco e eu balancei a cabeça concordando. 'Então, pretende passar o dia inteiro sentada nessa cama? Vamos lá na cozinha pra eu preparar alguma coisa pra você comer.' Ela se levantou e eu a olhei.
'Não to com fome, Soph. Prefiro ficar aqui mesmo.' Dei de ombros encostando o queixo em meus joelhos e ela bufou.
'Lu, por favor, faz isso por mim. Eu não sei o que aconteceu, mas eu vou fazer o possível pra te distrair, pra fazer você sorrir ao menos um pouco, mas colabora comigo.' Ela se agachou ao meu lado me olhando.
'Já disse que eu estaria completamente perdida sem você, né?' A abracei sorrindo fraco e ela riu.
'Eu sei que você não vive sem mim, pirralha! Agora vamos comer que até eu já to com fome.' Ela me puxou delicadamente da cama e fomos pra cozinha de braços dados.
O dia já estava escuro e Sophia continuava comigo fazendo qualquer coisa pra me distrair. Até ouvir musicas infantis nós ouvimos, parecíamos duas pré-adolescentes sozinhas em casa sem os pais para reclamar das risadas e do som alto.
'Seu braço tá machucado?' Ela ficou séria de repente segurando meu braço onde a marca roxa permanecia perto do meu pulso.
'Ná, eu acho que bati.' Falei rápido puxando meu braço.
'Lu, isso não foi...'
'Eu só bati, Sophia.' A interrompi e falei séria. Ela concordou balançando a cabeça, mas eu sabia que ela não tinha realmente acreditado. A pequena marca roxa tinha sido claramente provocada por um apertão, não se parecia em nada com uma marca de pancada.
Agradeci mentalmente quando o celular de Sophia tocou e ela foi pra cozinha dizendo que era o Micael. Quase dez minutos depois ela voltou e sentou ao meu lado no sofá novamente.
'Diego pediu pra falar que tá com sódade.' ela imitou a voz de Diego e eu ri. Arthur tinha o levado pra escola antes de ir pra casa de Micael, e depois provavelmente tinha ido pega-lo e o levado para casa de Micael.
'Awn, um dia inteiro sem ver minha criança.' Falei fazendo bico. Soph riu fraco e voltou a atenção para a tv. Abracei minhas pernas e suspirei pesadamente. 'Como ele tá?' Eu observei Sophia voltar o olhar pra mim e ficar alguns segundos em silencio. Ela sabia que eu não estava me referindo ao Diego.
'Micael disse que ele tá trancado no quarto, e não sai de lá pra nada.' Ela levantou levemente os ombros. 'Ele disse que teve que se virar com o Diego que ficava perguntando do pai o tempo todo.' Ela parou suspirando. 'Parece que o Arthur disse que não tem coragem nem de olhar pro próprio filho.' Abracei minhas pernas mais forte sentindo meu coração desabar.
Sentir a dor dele se misturar com a minha era praticamente insuportável. Fechei meus olhos e novamente comecei a me balançar lentamente pra frente e para trás, como se aquilo de alguma forma aliviasse a dor.
Percebi que Sophia abaixou o volume da tv, mas não falou nada. Eu deixei novamente que a minha mente vagasse novamente, buscando desesperadamente momentos felizes que me tirassem daquela realidade.
Lembrei do dia do parto de Diego, a felicidade facilmente notada nos olhos de Arthur. Aquele foi o dia que eu soube que minha vida nunca mais seria a mesma, foi o dia que idealizei que é possível amar alguém além da própria vida, que aquele ser humano que sai de você, sai levando uma parte imensa sua, ele carrega principalmente seu coração.
'Lu?' A voz de Sophia era baixa e quando eu abri os olhos encontrei seu rosto perto do meu. 'É melhor você ir pro quarto, você tá numa posição péssima aí.' Olhei em volta e só então percebi que tinha dormido no sofá e que estava praticamente sentada.
'Por quanto tempo eu dormi?' Perguntei me levantando.
'Hm.. quase duas horas. O Micael já até passou aqui pra pegar algumas roupas pro Diego, e trouxe algumas pra mim também, vou ficar aqui com você.' Ela sorriu calmamente e eu a abracei.
'Brigada, amiga. Por tudo.' Falei sincera enquanto íamos até o quarto.
'Sem problemas, você sabe que eu vou tá do seu lado sempre que você precisar.' Ela sentou na cama ao meu lado. 'Agora dorme, Lu. Você precisa descansar.'
Puxei o cobertor e me deitei confortavelmente na cama enquanto Sophia deitava do meu lado.
'Boa noite, amiga.' Ela falou baixo e eu sorri suspirando enquanto começava a cantar alguma musica mentalmente para tentar disfarçar não só as partes do meu corpo que ainda doíam, mas principalmente as dores mais profundas, que talvez nem mesmo o tempo fosse capaz de curar. Falei fazendo bico. Soph riu fraco e voltou a aten
Eu não sabia que horas eram, eu tinha medo de me mexer e voltar a tremer sem controle, meu corpo continuava tão encolhido quanto na noite anterior, e eu continuava sentindo dores em algumas partes. Meus olhos doíam e pareciam estar inchados por ter derramado tantas lágrimas, mas eu ainda sentia algumas escorrendo por meu rosto vez ou outra.
Fechei meus olhos tentando fugir daquela realidade e comecei a sussurrar uma musica e me balançar calmamente enquanto abraçava minhas pernas.
"Eu andei por ai
eu vi o tempo passar
mas não vi muita coisa mudar
Foi quando algo em mim
me disse ficar aqui
Tudo vai continuar como está"
Depois da Chuva era a musica que eu costumava ouvir para me acalmar ou até mesmo para dormir. Eu sempre colocava ela baixinho em meu iPod e fechava os olhos para esquecer das coisas a minha volta.
"Tenho que achar
um jeito de mudar o meu caminho
Também errei mas tudo bem
Sempre podemos tentar de novo"
"Porque sei depois da chuva
sempre vem o sol
Tudo vai melhorar
Só o tempo pode por as coisas no lugar
Pra recomeçar"
Devo ter dormido por algum tempo já que quando abri os olhos novamente vi que os raios do sol entravam com mais intensidade pelas frestas da cortina.
Finalmente tomei coragem e me mexi um pouco podendo ver o relógio ao lado da cama que marcavam mais de dez horas da manhã. Senti meu braço doer quando me apoiei um pouco na cama e vi que perto do meu pulso tinha uma pequena marca roxa. Acomodei meu braço em frente ao meu corpo com medo de machucá-lo ainda mais e continuei deitada deixando minha cabeça vagar para qualquer assunto que me impedisse de pensar na noite anterior.
As horas foram se passando lentamente enquanto eu me obrigava a lembrar de coisas felizes até da minha infância. Minhas pernas já doíam por ficar tanto tempo com elas encolhidas, mas eu tinha medo até de me levantar. A casa permanecia silenciosa, mas eu não ousava destrancar a porta. Estiquei um pouco as pernas, mas continuei deitada encarando as paredes do quarto.
'Lu?' Uma voz um pouco longe me chamou e eu me encolhi novamente prendendo a respiração. Alguns segundos se passaram e eu achei que fosse minha imaginação, até ouvir a voz me chamando novamente.
'Lu, sou eu, Sophia. Você tá aí?' Meu corpo todo relaxou e eu senti uma pequena onda de felicidade só por ouvir a voz da Soph. 'Lu, abre a porta, por favor.' Ela mexia na maçaneta sem sucesso já que a porta continuava trancada. Pensei por alguns instantes se abria ou não, ainda tinha medo de Arthur estar por ali.
Me levantei sentindo minhas pernas fraquejarem e tive que ir me apoiando na parede para chegar até a porta. Quando abri a porta e vi Sophia sorrindo pra mim eu me joguei nos braços ela e comecei a chorar.
'Ai, Lu, calma.' Ela me abraçou forte e caminhou até a cama me sentando lá enquanto eu encharcava sua camisa. 'Tá tudo bem agora, amiga.' Ela passou a mão por meus cabelos me confortando.
Foi preciso quase meia hora para que eu finalmente conseguisse me acalmar. Me sentei encolhida de frente pra Sophia que me olhava séria. Eu ainda estava soluçando e me perguntando por que ela tinha aparecido por lá. Ela suspirou e segurou minha mão.
'Eu não sei o que aconteceu.' Ela respondeu a pergunta que martelava em minha cabeça. 'Mas acho que foi realmente grave pelo estado em que o Arthur estava.' Eu a olhei sem entender. Arthur tinha ido atrás dela?
'Ele foi lá na faculdade me procurar. Eu tava no meio da aula, mas ele parecia tão desesperado no telefone que eu inventei uma desculpa qualquer pro professor e saí da sala. Arthur tava lá fora sentado em um banco com as mãos cobrindo o rosto e quando eu cheguei perto eu realmente me assustei...' ela parou e me olhou um pouco aturdida.
'Ele tava chorando como uma criança.' Ela deu um risada de descrença. 'Ele nem me deixou perguntar o que tinha acontecido, só pediu pra eu vir pra cá porque você precisava de mim. E começou a falar coisas que eu não entendi direito, me pediu desculpas e depois começou a falar que não era pra eu desculpa-lo. E depois ainda disse que se você quisesse ele sumia da sua vida e da do Diego, que vocês iam ficar melhor sem ele.' Ela parou tomando fôlego. 'No final de tudo ele me deu as chaves dele e cá estou eu.' Ela deu de ombros deixando claro que não tinha entendido absolutamente nada.
'Brigada por ter vindo.' Falei apertando carinhosamente a mão de Sophia e sorrindo fraco.
'Então... eu vou saber o que aconteceu?' Ela perguntou receosa e eu mordi o lábio já sentindo as lágrimas encherem meus olhos.
'Desculpa, eu não sei se consigo' Falei já chorando e Sophia me abraçou.
'Tudo bem, não precisa falar agora. Só fala quando você se sentir bem.' Ela sorriu fraco e eu balancei a cabeça concordando. 'Então, pretende passar o dia inteiro sentada nessa cama? Vamos lá na cozinha pra eu preparar alguma coisa pra você comer.' Ela se levantou e eu a olhei.
'Não to com fome, Soph. Prefiro ficar aqui mesmo.' Dei de ombros encostando o queixo em meus joelhos e ela bufou.
'Lu, por favor, faz isso por mim. Eu não sei o que aconteceu, mas eu vou fazer o possível pra te distrair, pra fazer você sorrir ao menos um pouco, mas colabora comigo.' Ela se agachou ao meu lado me olhando.
'Já disse que eu estaria completamente perdida sem você, né?' A abracei sorrindo fraco e ela riu.
'Eu sei que você não vive sem mim, pirralha! Agora vamos comer que até eu já to com fome.' Ela me puxou delicadamente da cama e fomos pra cozinha de braços dados.
O dia já estava escuro e Sophia continuava comigo fazendo qualquer coisa pra me distrair. Até ouvir musicas infantis nós ouvimos, parecíamos duas pré-adolescentes sozinhas em casa sem os pais para reclamar das risadas e do som alto.
'Seu braço tá machucado?' Ela ficou séria de repente segurando meu braço onde a marca roxa permanecia perto do meu pulso.
'Ná, eu acho que bati.' Falei rápido puxando meu braço.
'Lu, isso não foi...'
'Eu só bati, Sophia.' A interrompi e falei séria. Ela concordou balançando a cabeça, mas eu sabia que ela não tinha realmente acreditado. A pequena marca roxa tinha sido claramente provocada por um apertão, não se parecia em nada com uma marca de pancada.
Agradeci mentalmente quando o celular de Sophia tocou e ela foi pra cozinha dizendo que era o Micael. Quase dez minutos depois ela voltou e sentou ao meu lado no sofá novamente.
'Diego pediu pra falar que tá com sódade.' ela imitou a voz de Diego e eu ri. Arthur tinha o levado pra escola antes de ir pra casa de Micael, e depois provavelmente tinha ido pega-lo e o levado para casa de Micael.
'Awn, um dia inteiro sem ver minha criança.' Falei fazendo bico. Soph riu fraco e voltou a atenção para a tv. Abracei minhas pernas e suspirei pesadamente. 'Como ele tá?' Eu observei Sophia voltar o olhar pra mim e ficar alguns segundos em silencio. Ela sabia que eu não estava me referindo ao Diego.
'Micael disse que ele tá trancado no quarto, e não sai de lá pra nada.' Ela levantou levemente os ombros. 'Ele disse que teve que se virar com o Diego que ficava perguntando do pai o tempo todo.' Ela parou suspirando. 'Parece que o Arthur disse que não tem coragem nem de olhar pro próprio filho.' Abracei minhas pernas mais forte sentindo meu coração desabar.
Sentir a dor dele se misturar com a minha era praticamente insuportável. Fechei meus olhos e novamente comecei a me balançar lentamente pra frente e para trás, como se aquilo de alguma forma aliviasse a dor.
Percebi que Sophia abaixou o volume da tv, mas não falou nada. Eu deixei novamente que a minha mente vagasse novamente, buscando desesperadamente momentos felizes que me tirassem daquela realidade.
Lembrei do dia do parto de Diego, a felicidade facilmente notada nos olhos de Arthur. Aquele foi o dia que eu soube que minha vida nunca mais seria a mesma, foi o dia que idealizei que é possível amar alguém além da própria vida, que aquele ser humano que sai de você, sai levando uma parte imensa sua, ele carrega principalmente seu coração.
'Lu?' A voz de Sophia era baixa e quando eu abri os olhos encontrei seu rosto perto do meu. 'É melhor você ir pro quarto, você tá numa posição péssima aí.' Olhei em volta e só então percebi que tinha dormido no sofá e que estava praticamente sentada.
'Por quanto tempo eu dormi?' Perguntei me levantando.
'Hm.. quase duas horas. O Micael já até passou aqui pra pegar algumas roupas pro Diego, e trouxe algumas pra mim também, vou ficar aqui com você.' Ela sorriu calmamente e eu a abracei.
'Brigada, amiga. Por tudo.' Falei sincera enquanto íamos até o quarto.
'Sem problemas, você sabe que eu vou tá do seu lado sempre que você precisar.' Ela sentou na cama ao meu lado. 'Agora dorme, Lu. Você precisa descansar.'
Puxei o cobertor e me deitei confortavelmente na cama enquanto Sophia deitava do meu lado.
'Boa noite, amiga.' Ela falou baixo e eu sorri suspirando enquanto começava a cantar alguma musica mentalmente para tentar disfarçar não só as partes do meu corpo que ainda doíam, mas principalmente as dores mais profundas, que talvez nem mesmo o tempo fosse capaz de curar. Falei fazendo bico. Soph riu fraco e voltou a aten
- 30° Capitulo
Não sei dizer ao certo
durante quantas horas eu dormi. Na verdade nem sei se eu realmente dormi, a
maior parte do tempo fiquei encarando o breu a minha frente, amedrontada demais
para sequer pensar em dormir. A claridade já era visível por detrás das
cortinas, tudo estava silencioso, parecia que nem mesmo a rua lá fora estava
movimentada.
Eu não sabia que horas eram, eu tinha medo de me mexer e voltar a tremer sem controle, meu corpo continuava tão encolhido quanto na noite anterior, e eu continuava sentindo dores em algumas partes. Meus olhos doíam e pareciam estar inchados por ter derramado tantas lágrimas, mas eu ainda sentia algumas escorrendo por meu rosto vez ou outra.
Fechei meus olhos tentando fugir daquela realidade e comecei a sussurrar uma musica e me balançar calmamente enquanto abraçava minhas pernas.
"Eu andei por ai
eu vi o tempo passar
mas não vi muita coisa mudar
Foi quando algo em mim
me disse ficar aqui
Tudo vai continuar como está"
Depois da Chuva era a musica que eu costumava ouvir para me acalmar ou até mesmo para dormir. Eu sempre colocava ela baixinho em meu iPod e fechava os olhos para esquecer das coisas a minha volta.
"Tenho que achar
um jeito de mudar o meu caminho
Também errei mas tudo bem
Sempre podemos tentar de novo"
"Porque sei depois da chuva
sempre vem o sol
Tudo vai melhorar
Só o tempo pode por as coisas no lugar
Pra recomeçar"
Devo ter dormido por algum tempo já que quando abri os olhos novamente vi que os raios do sol entravam com mais intensidade pelas frestas da cortina.
Finalmente tomei coragem e me mexi um pouco podendo ver o relógio ao lado da cama que marcavam mais de dez horas da manhã. Senti meu braço doer quando me apoiei um pouco na cama e vi que perto do meu pulso tinha uma pequena marca roxa. Acomodei meu braço em frente ao meu corpo com medo de machucá-lo ainda mais e continuei deitada deixando minha cabeça vagar para qualquer assunto que me impedisse de pensar na noite anterior.
As horas foram se passando lentamente enquanto eu me obrigava a lembrar de coisas felizes até da minha infância. Minhas pernas já doíam por ficar tanto tempo com elas encolhidas, mas eu tinha medo até de me levantar. A casa permanecia silenciosa, mas eu não ousava destrancar a porta. Estiquei um pouco as pernas, mas continuei deitada encarando as paredes do quarto.
'Lu?' Uma voz um pouco longe me chamou e eu me encolhi novamente prendendo a respiração. Alguns segundos se passaram e eu achei que fosse minha imaginação, até ouvir a voz me chamando novamente.
'Lu, sou eu, Sophia. Você tá aí?' Meu corpo todo relaxou e eu senti uma pequena onda de felicidade só por ouvir a voz da Soph. 'Lu, abre a porta, por favor.' Ela mexia na maçaneta sem sucesso já que a porta continuava trancada. Pensei por alguns instantes se abria ou não, ainda tinha medo de Arthur estar por ali.
Me levantei sentindo minhas pernas fraquejarem e tive que ir me apoiando na parede para chegar até a porta. Quando abri a porta e vi Sophia sorrindo pra mim eu me joguei nos braços ela e comecei a chorar.
'Ai, Lu, calma.' Ela me abraçou forte e caminhou até a cama me sentando lá enquanto eu encharcava sua camisa. 'Tá tudo bem agora, amiga.' Ela passou a mão por meus cabelos me confortando.
Foi preciso quase meia hora para que eu finalmente conseguisse me acalmar. Me sentei encolhida de frente pra Sophia que me olhava séria. Eu ainda estava soluçando e me perguntando por que ela tinha aparecido por lá. Ela suspirou e segurou minha mão.
'Eu não sei o que aconteceu.' Ela respondeu a pergunta que martelava em minha cabeça. 'Mas acho que foi realmente grave pelo estado em que o Arthur estava.' Eu a olhei sem entender. Arthur tinha ido atrás dela?
'Ele foi lá na faculdade me procurar. Eu tava no meio da aula, mas ele parecia tão desesperado no telefone que eu inventei uma desculpa qualquer pro professor e saí da sala. Arthur tava lá fora sentado em um banco com as mãos cobrindo o rosto e quando eu cheguei perto eu realmente me assustei...' ela parou e me olhou um pouco aturdida.
'Ele tava chorando como uma criança.' Ela deu um risada de descrença. 'Ele nem me deixou perguntar o que tinha acontecido, só pediu pra eu vir pra cá porque você precisava de mim. E começou a falar coisas que eu não entendi direito, me pediu desculpas e depois começou a falar que não era pra eu desculpa-lo. E depois ainda disse que se você quisesse ele sumia da sua vida e da do Diego, que vocês iam ficar melhor sem ele.' Ela parou tomando fôlego. 'No final de tudo ele me deu as chaves dele e cá estou eu.' Ela deu de ombros deixando claro que não tinha entendido absolutamente nada.
'Brigada por ter vindo.' Falei apertando carinhosamente a mão de Sophia e sorrindo fraco.
'Então... eu vou saber o que aconteceu?' Ela perguntou receosa e eu mordi o lábio já sentindo as lágrimas encherem meus olhos.
'Desculpa, eu não sei se consigo' Falei já chorando e Sophia me abraçou.
'Tudo bem, não precisa falar agora. Só fala quando você se sentir bem.' Ela sorriu fraco e eu balancei a cabeça concordando. 'Então, pretende passar o dia inteiro sentada nessa cama? Vamos lá na cozinha pra eu preparar alguma coisa pra você comer.' Ela se levantou e eu a olhei.
'Não to com fome, Soph. Prefiro ficar aqui mesmo.' Dei de ombros encostando o queixo em meus joelhos e ela bufou.
'Lu, por favor, faz isso por mim. Eu não sei o que aconteceu, mas eu vou fazer o possível pra te distrair, pra fazer você sorrir ao menos um pouco, mas colabora comigo.' Ela se agachou ao meu lado me olhando.
'Já disse que eu estaria completamente perdida sem você, né?' A abracei sorrindo fraco e ela riu.
'Eu sei que você não vive sem mim, pirralha! Agora vamos comer que até eu já to com fome.' Ela me puxou delicadamente da cama e fomos pra cozinha de braços dados.
O dia já estava escuro e Sophia continuava comigo fazendo qualquer coisa pra me distrair. Até ouvir musicas infantis nós ouvimos, parecíamos duas pré-adolescentes sozinhas em casa sem os pais para reclamar das risadas e do som alto.
'Seu braço tá machucado?' Ela ficou séria de repente segurando meu braço onde a marca roxa permanecia perto do meu pulso.
'Ná, eu acho que bati.' Falei rápido puxando meu braço.
'Lu, isso não foi...'
'Eu só bati, Sophia.' A interrompi e falei séria. Ela concordou balançando a cabeça, mas eu sabia que ela não tinha realmente acreditado. A pequena marca roxa tinha sido claramente provocada por um apertão, não se parecia em nada com uma marca de pancada.
Agradeci mentalmente quando o celular de Sophia tocou e ela foi pra cozinha dizendo que era o Micael. Quase dez minutos depois ela voltou e sentou ao meu lado no sofá novamente.
'Diego pediu pra falar que tá com sódade.' ela imitou a voz de Diego e eu ri. Arthur tinha o levado pra escola antes de ir pra casa de Micael, e depois provavelmente tinha ido pega-lo e o levado para casa de Micael.
'Awn, um dia inteiro sem ver minha criança.' Falei fazendo bico. Soph riu fraco e voltou a atenção para a tv. Abracei minhas pernas e suspirei pesadamente. 'Como ele tá?' Eu observei Sophia voltar o olhar pra mim e ficar alguns segundos em silencio. Ela sabia que eu não estava me referindo ao Diego.
'Micael disse que ele tá trancado no quarto, e não sai de lá pra nada.' Ela levantou levemente os ombros. 'Ele disse que teve que se virar com o Diego que ficava perguntando do pai o tempo todo.' Ela parou suspirando. 'Parece que o Arthur disse que não tem coragem nem de olhar pro próprio filho.' Abracei minhas pernas mais forte sentindo meu coração desabar.
Sentir a dor dele se misturar com a minha era praticamente insuportável. Fechei meus olhos e novamente comecei a me balançar lentamente pra frente e para trás, como se aquilo de alguma forma aliviasse a dor.
Percebi que Sophia abaixou o volume da tv, mas não falou nada. Eu deixei novamente que a minha mente vagasse novamente, buscando desesperadamente momentos felizes que me tirassem daquela realidade.
Lembrei do dia do parto de Diego, a felicidade facilmente notada nos olhos de Arthur. Aquele foi o dia que eu soube que minha vida nunca mais seria a mesma, foi o dia que idealizei que é possível amar alguém além da própria vida, que aquele ser humano que sai de você, sai levando uma parte imensa sua, ele carrega principalmente seu coração.
'Lu?' A voz de Sophia era baixa e quando eu abri os olhos encontrei seu rosto perto do meu. 'É melhor você ir pro quarto, você tá numa posição péssima aí.' Olhei em volta e só então percebi que tinha dormido no sofá e que estava praticamente sentada.
'Por quanto tempo eu dormi?' Perguntei me levantando.
'Hm.. quase duas horas. O Micael já até passou aqui pra pegar algumas roupas pro Diego, e trouxe algumas pra mim também, vou ficar aqui com você.' Ela sorriu calmamente e eu a abracei.
'Brigada, amiga. Por tudo.' Falei sincera enquanto íamos até o quarto.
'Sem problemas, você sabe que eu vou tá do seu lado sempre que você precisar.' Ela sentou na cama ao meu lado. 'Agora dorme, Lu. Você precisa descansar.'
Puxei o cobertor e me deitei confortavelmente na cama enquanto Sophia deitava do meu lado.
'Boa noite, amiga.' Ela falou baixo e eu sorri suspirando enquanto começava a cantar alguma musica mentalmente para tentar disfarçar não só as partes do meu corpo que ainda doíam, mas principalmente as dores mais profundas, que talvez nem mesmo o tempo fosse capaz de curar. Falei fazendo bico. Soph riu fraco e voltou a atenção
Eu não sabia que horas eram, eu tinha medo de me mexer e voltar a tremer sem controle, meu corpo continuava tão encolhido quanto na noite anterior, e eu continuava sentindo dores em algumas partes. Meus olhos doíam e pareciam estar inchados por ter derramado tantas lágrimas, mas eu ainda sentia algumas escorrendo por meu rosto vez ou outra.
Fechei meus olhos tentando fugir daquela realidade e comecei a sussurrar uma musica e me balançar calmamente enquanto abraçava minhas pernas.
"Eu andei por ai
eu vi o tempo passar
mas não vi muita coisa mudar
Foi quando algo em mim
me disse ficar aqui
Tudo vai continuar como está"
Depois da Chuva era a musica que eu costumava ouvir para me acalmar ou até mesmo para dormir. Eu sempre colocava ela baixinho em meu iPod e fechava os olhos para esquecer das coisas a minha volta.
"Tenho que achar
um jeito de mudar o meu caminho
Também errei mas tudo bem
Sempre podemos tentar de novo"
"Porque sei depois da chuva
sempre vem o sol
Tudo vai melhorar
Só o tempo pode por as coisas no lugar
Pra recomeçar"
Devo ter dormido por algum tempo já que quando abri os olhos novamente vi que os raios do sol entravam com mais intensidade pelas frestas da cortina.
Finalmente tomei coragem e me mexi um pouco podendo ver o relógio ao lado da cama que marcavam mais de dez horas da manhã. Senti meu braço doer quando me apoiei um pouco na cama e vi que perto do meu pulso tinha uma pequena marca roxa. Acomodei meu braço em frente ao meu corpo com medo de machucá-lo ainda mais e continuei deitada deixando minha cabeça vagar para qualquer assunto que me impedisse de pensar na noite anterior.
As horas foram se passando lentamente enquanto eu me obrigava a lembrar de coisas felizes até da minha infância. Minhas pernas já doíam por ficar tanto tempo com elas encolhidas, mas eu tinha medo até de me levantar. A casa permanecia silenciosa, mas eu não ousava destrancar a porta. Estiquei um pouco as pernas, mas continuei deitada encarando as paredes do quarto.
'Lu?' Uma voz um pouco longe me chamou e eu me encolhi novamente prendendo a respiração. Alguns segundos se passaram e eu achei que fosse minha imaginação, até ouvir a voz me chamando novamente.
'Lu, sou eu, Sophia. Você tá aí?' Meu corpo todo relaxou e eu senti uma pequena onda de felicidade só por ouvir a voz da Soph. 'Lu, abre a porta, por favor.' Ela mexia na maçaneta sem sucesso já que a porta continuava trancada. Pensei por alguns instantes se abria ou não, ainda tinha medo de Arthur estar por ali.
Me levantei sentindo minhas pernas fraquejarem e tive que ir me apoiando na parede para chegar até a porta. Quando abri a porta e vi Sophia sorrindo pra mim eu me joguei nos braços ela e comecei a chorar.
'Ai, Lu, calma.' Ela me abraçou forte e caminhou até a cama me sentando lá enquanto eu encharcava sua camisa. 'Tá tudo bem agora, amiga.' Ela passou a mão por meus cabelos me confortando.
Foi preciso quase meia hora para que eu finalmente conseguisse me acalmar. Me sentei encolhida de frente pra Sophia que me olhava séria. Eu ainda estava soluçando e me perguntando por que ela tinha aparecido por lá. Ela suspirou e segurou minha mão.
'Eu não sei o que aconteceu.' Ela respondeu a pergunta que martelava em minha cabeça. 'Mas acho que foi realmente grave pelo estado em que o Arthur estava.' Eu a olhei sem entender. Arthur tinha ido atrás dela?
'Ele foi lá na faculdade me procurar. Eu tava no meio da aula, mas ele parecia tão desesperado no telefone que eu inventei uma desculpa qualquer pro professor e saí da sala. Arthur tava lá fora sentado em um banco com as mãos cobrindo o rosto e quando eu cheguei perto eu realmente me assustei...' ela parou e me olhou um pouco aturdida.
'Ele tava chorando como uma criança.' Ela deu um risada de descrença. 'Ele nem me deixou perguntar o que tinha acontecido, só pediu pra eu vir pra cá porque você precisava de mim. E começou a falar coisas que eu não entendi direito, me pediu desculpas e depois começou a falar que não era pra eu desculpa-lo. E depois ainda disse que se você quisesse ele sumia da sua vida e da do Diego, que vocês iam ficar melhor sem ele.' Ela parou tomando fôlego. 'No final de tudo ele me deu as chaves dele e cá estou eu.' Ela deu de ombros deixando claro que não tinha entendido absolutamente nada.
'Brigada por ter vindo.' Falei apertando carinhosamente a mão de Sophia e sorrindo fraco.
'Então... eu vou saber o que aconteceu?' Ela perguntou receosa e eu mordi o lábio já sentindo as lágrimas encherem meus olhos.
'Desculpa, eu não sei se consigo' Falei já chorando e Sophia me abraçou.
'Tudo bem, não precisa falar agora. Só fala quando você se sentir bem.' Ela sorriu fraco e eu balancei a cabeça concordando. 'Então, pretende passar o dia inteiro sentada nessa cama? Vamos lá na cozinha pra eu preparar alguma coisa pra você comer.' Ela se levantou e eu a olhei.
'Não to com fome, Soph. Prefiro ficar aqui mesmo.' Dei de ombros encostando o queixo em meus joelhos e ela bufou.
'Lu, por favor, faz isso por mim. Eu não sei o que aconteceu, mas eu vou fazer o possível pra te distrair, pra fazer você sorrir ao menos um pouco, mas colabora comigo.' Ela se agachou ao meu lado me olhando.
'Já disse que eu estaria completamente perdida sem você, né?' A abracei sorrindo fraco e ela riu.
'Eu sei que você não vive sem mim, pirralha! Agora vamos comer que até eu já to com fome.' Ela me puxou delicadamente da cama e fomos pra cozinha de braços dados.
O dia já estava escuro e Sophia continuava comigo fazendo qualquer coisa pra me distrair. Até ouvir musicas infantis nós ouvimos, parecíamos duas pré-adolescentes sozinhas em casa sem os pais para reclamar das risadas e do som alto.
'Seu braço tá machucado?' Ela ficou séria de repente segurando meu braço onde a marca roxa permanecia perto do meu pulso.
'Ná, eu acho que bati.' Falei rápido puxando meu braço.
'Lu, isso não foi...'
'Eu só bati, Sophia.' A interrompi e falei séria. Ela concordou balançando a cabeça, mas eu sabia que ela não tinha realmente acreditado. A pequena marca roxa tinha sido claramente provocada por um apertão, não se parecia em nada com uma marca de pancada.
Agradeci mentalmente quando o celular de Sophia tocou e ela foi pra cozinha dizendo que era o Micael. Quase dez minutos depois ela voltou e sentou ao meu lado no sofá novamente.
'Diego pediu pra falar que tá com sódade.' ela imitou a voz de Diego e eu ri. Arthur tinha o levado pra escola antes de ir pra casa de Micael, e depois provavelmente tinha ido pega-lo e o levado para casa de Micael.
'Awn, um dia inteiro sem ver minha criança.' Falei fazendo bico. Soph riu fraco e voltou a atenção para a tv. Abracei minhas pernas e suspirei pesadamente. 'Como ele tá?' Eu observei Sophia voltar o olhar pra mim e ficar alguns segundos em silencio. Ela sabia que eu não estava me referindo ao Diego.
'Micael disse que ele tá trancado no quarto, e não sai de lá pra nada.' Ela levantou levemente os ombros. 'Ele disse que teve que se virar com o Diego que ficava perguntando do pai o tempo todo.' Ela parou suspirando. 'Parece que o Arthur disse que não tem coragem nem de olhar pro próprio filho.' Abracei minhas pernas mais forte sentindo meu coração desabar.
Sentir a dor dele se misturar com a minha era praticamente insuportável. Fechei meus olhos e novamente comecei a me balançar lentamente pra frente e para trás, como se aquilo de alguma forma aliviasse a dor.
Percebi que Sophia abaixou o volume da tv, mas não falou nada. Eu deixei novamente que a minha mente vagasse novamente, buscando desesperadamente momentos felizes que me tirassem daquela realidade.
Lembrei do dia do parto de Diego, a felicidade facilmente notada nos olhos de Arthur. Aquele foi o dia que eu soube que minha vida nunca mais seria a mesma, foi o dia que idealizei que é possível amar alguém além da própria vida, que aquele ser humano que sai de você, sai levando uma parte imensa sua, ele carrega principalmente seu coração.
'Lu?' A voz de Sophia era baixa e quando eu abri os olhos encontrei seu rosto perto do meu. 'É melhor você ir pro quarto, você tá numa posição péssima aí.' Olhei em volta e só então percebi que tinha dormido no sofá e que estava praticamente sentada.
'Por quanto tempo eu dormi?' Perguntei me levantando.
'Hm.. quase duas horas. O Micael já até passou aqui pra pegar algumas roupas pro Diego, e trouxe algumas pra mim também, vou ficar aqui com você.' Ela sorriu calmamente e eu a abracei.
'Brigada, amiga. Por tudo.' Falei sincera enquanto íamos até o quarto.
'Sem problemas, você sabe que eu vou tá do seu lado sempre que você precisar.' Ela sentou na cama ao meu lado. 'Agora dorme, Lu. Você precisa descansar.'
Puxei o cobertor e me deitei confortavelmente na cama enquanto Sophia deitava do meu lado.
'Boa noite, amiga.' Ela falou baixo e eu sorri suspirando enquanto começava a cantar alguma musica mentalmente para tentar disfarçar não só as partes do meu corpo que ainda doíam, mas principalmente as dores mais profundas, que talvez nem mesmo o tempo fosse capaz de curar. Falei fazendo bico. Soph riu fraco e voltou a atenção
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