- 39° Capitulo
'Ai, droga!' Falei ouvindo o fogão apitar escandalosamente mostrando que os muffins já estavam mais que prontos. Tirei a bandeja do forno e a coloquei em cima da bancada observando os muffins levemente queimados. 'Merda, merda, merda!' Falei me amaldiçoando, eu deifinitivamente era um desastre na cozinha.
Observei o espaço a minha volta, tudo estava uma bagunça. Havia farinha derramada por toda a mesa, leite e cascas de ovos na bancada, além de chocolate em pó pelo chão da cozinha. Bufei passando a mão pelo cabelo e mordi o lábio imaginando se dava tempo de correr até a Starbucks mais próxima e comprar alguns muffins. Olhei o relógio na parede que marcava pouco mais de oito da manhã. Ótimo, o vôo de Arthur só chegaria às nove, e daqui que ele chegasse em casa provavelmente já seriam quase dez da manhã.
Tirei o avental e corri pro quarto, separei uma roupa básica e entrei no banheiro para tomar banho. A água morna me vez relaxar um pouco enquanto eu repetia mentalmente que tudo ia dar certo.
Os meninos chegariam de Dublin com um contrato assinado, Arthur chegaria em casa e teria um lindo café da manhã o esperando. Era tudo tão simples, lógico que ia dar certo.
Me vesti apressadamente, arrumei meu cabelo, peguei minha bolsa e saí de casa quase esquecendo a chave do lado de fora da porta. Se eu não tivesse fechado os olhos e contado até dez provavelmente teria voado pelas escadas sem nem esperar o elevador, mas resolvi respirar fundo e repetir novamente meu mantra.
A Starbucks mais perto de casa não era assim tão perto, em um dia normal eu poderia ter ido a pé, mas não naquele dia. Por sorte as ruas não estavam muito engarrafadas e eu pude dirigir tranquilamente enquanto pensava nas várias reações que eu poderia ter quando Arthur dissesse que eles tinham assinado com a gravadora. Mas e se eles não tivessem conseguido? Pensei por alguns instantes e depois sorri comigo mesma. Lógico que eles tinham conseguido, eu sentia isso. Desejei por alguns segundos que Arthur tivesse me ligado mais cedo, mesmo que me acordasse, ao menos pra dizer como foram. Oteste deles havia sido na noite anterior, Arthur disse que se eles não terminassem muito tarde ele me ligaria. Fiquei acordada o máximo que eu pude, mas quando o sono me venceu, quase uma hora da manhã, ele ainda não havia dado noticia. Quando acordei tentei ligar pro celular dele, mas ele provavelmente já tinha embarcado e desligado o celular.
Estacionei o carro em uma das poucas vagas que tinham por ali, agradecendo mentalmente por nem todos terem tido a idéia de ir até a Starbucks àquela hora e entrei na loja sentindo aquele agradável cheiro de café.
Cheguei ao balcão e escolhi alguns muffins rapidamente já que eu sabia quais Arthur gostava. Aproveitei para pegar um Caramel Macchiato para mim, nunca conseguia resistir quando via a foto dele no menu que ficava na parede atrás do balcão.
Sentei numa mesa que ficava na pequena varanda da loja e comecei a tomar minha bebida calmamente, agora que eu tinha meus muffins eu não precisava mais ter pressa. Senti minha bolsa vibrar levemente e catei meu celular que pra variar estava o mais embaixo de tudo possível, o nome de Sophia piscava na tela.
'Amiiiga!' Falei animada arrancando uma risada dela.
'Também faltou aula pra esperar pelos meninos?' Ela perguntou num tom sarcástico e eu ri confirmando. 'Só aula chata hoje mesmo, não faço questão.' Ela brincou.
'O Micael deu alguma noticia?' Perguntei observando a falta de movimento na rua.
'Nop, fiquei esperando ele ligar ontem à noite, mas acabei dormindo. Hoje cedo eu conseguir ligar pro celular dele, mas chamou e ninguém atendeu. É pra ficar preocupada?' Senti um receio em sua voz.
'Ná, certeza que tá tudo bem.' Falei tentando tranqüiliza-la.
'Ok, tenho que ir, to preparando um café da manhã pro meu amor.' Sophia sempre faz uma voz boba quando fala do Micael, incrível!
'Boa sorte, eu tive que recorrer à Starbucks.' Rimos. 'Beijos.'
Fiquei mais alguns minutos sentada, e quando meu Caramel acabou fui pra casa imaginando se o vôo dos meninos já devia estar chegando em Londres.
Arrumei a mesa da sala e coloquei uma margarida no pequeno e elegante vaso transparente que eu raramente usava. Ele era tão lindo que eu tinha medo de deixá-lo em algum lugar e acabar quebrando.
Olhei novamente o relógio e vi que já eram nove e meia. Respirei fundo e passei o olho pela sala novamente, tudo estava arrumado e ordenado, até as almofadas do sofá. Sorri comigo mesma e fui até o quarto trocar minha calça jeans pela calça de moletom do Bob Esponja que o Arthur gostava. Observei pela janela o tempo agradável lá fora, um pouco frio, mas nada de chuva o céu estava claro e limpo.
Olhei o enorme urso que estava no puff no canto do quarto perto da janela e sorri cruzando meus braços. Toda aquela calmaria em que minha vida tinha entrado me deixava apreensiva e insegura, depois de todo aquele tempo em que eu vi a vida passar e ir me deixando pra trás, agora eu tinha certeza finalmente que tudo estava dando certo. Eu sentia como se tivesse conseguido reerguer minha casa depois de um furacão, eu me sentia protegida e feliz. Simplesmente feliz.
Ouvi o barulho da chave de casa sendo girada e senti cada pedacinho do meu corpo estremecer. Tirei minha atenção do urso e caminhei até a sala tentando acalmar meu coração. Ao mesmo tempo em que eu cheguei à sala a porta foi aberta e meu olhar encontrou com o de Arthur. Ele sorriu e eu sorri junto com ele.
'Conseguimos!' Ele falou simplesmente ainda com a porta aberta e eu nem pensei duas vezes antes de correr até ele e me jogar em seus braços que já estavam abertos me esperando. Enterrei meu rosto em seu pescoço inalando a minha droga preferida; seu perfume. 'Senti sua falta.' Ele falou baixo e eu levantei o rosto pra olhá-lo.
'Também senti sua falta.' Falei sincera passando o polegar por sua bochecha.
O olhei por alguns instantes antes de encostar meus lábios nos seus e senti correntes elétricas passarem por meu corpo. Arthur chutou a porta de qualquer jeito antes de aprofundar o beijo me apertando mais em seus braços. Ele caminhou até a parede mais próxima e me colocou no chão pressionando seu corpo contra o meu.
'Quer dizer que agora o pai do meu filho é um musico com contrato assinado em uma gravadora?' Perguntei me separando um pouco dele e sorri.
'Quer parar de me chamar de o pai do meu filho?' Ele reclamou sorrindo e eu arqueei a sobrancelha.
'E te chamo do quê?' Perguntei em duvida.
'Hm... namorado?' Ele também arqueou a sobrancelha e eu fiquei estática o olhando. Eu já nem sabia mais se estava respirando, eu encarava seus olhos esperando que ele começasse a rir ou algo do tipo, mas seu rosto parecia completamente sincero. 'Lu?' Ele perguntou em duvida e eu balancei a cabeça caindo novamente na realidade.
'Namorado.' Eu ofeguei desviando minha atenção para um ponto qualquer no chão. Arthur tocou meu queixo me fazendo levantar o rosto para encará-lo e eu percebi seu olhar ainda de duvida. 'Meu namorado é um musico com contrato assinado em uma gravadora?' Falei em duvida e ele sorriu.
'Seu namorado vai gravar um cd e ficar famoso. Melhor assim?' Ele perguntou e eu ri sem conseguir controlar a felicidade que explodia em meu peito.
Namorado. Na-mo-ra-do. NAMORADO!
'Bem melhor!' Sorri e o abracei pelo pescoço encostando novamente nossos lábios.
Na tv ligada, Chris Brown cantava seu pegajoso "I bet there's hearts all over the world tonight with the love of their life who feel what I feel when I'm with you, with you, with you..." e eu não poderia concordar mais. ( With You – Chris Brown)
'Cadê o Diego?' Dessa vez Arthur partiu o beijo e eu ri lembrando das tentativas de Diego de fugir da escola hoje.
'Na escola, tentou me convencer de todas as formas a não ir hoje, inventou até que estava gripado e começou a tossir e mancar.' Arthur arqueou a sobrancelha.
'Mancar?' Eu ri.
'É, segundo ele a gripe estava tão forte que fazia a perna dele doer.' Nós rimos. 'Você não anda ensinando ele truques pra fugir da aula, anda, Arthur Aguiar?' Coloquei minhas mãos na cintura e Arthur riu alto.
'Não.' Ele pegou minha mãos e cruzou em seu pescoço de novo. Resmunguei alguma coisa quando ele me deu um selinho demorado. 'Ainda não!' Ele riu sem descolar nossas bocas e eu lhe dei um tapinha no braço.
'Tá com fome?' Me afastei um pouco ainda com os olhos fechados enquanto sentia o nariz de Arthur passear por minha bochecha.
'A gente tá sozinho em casa, certo?' Ele perguntou baixo e eu confirmei resmungando qualquer coisa, entorpecida demais pra formar alguma palavra que fizesse nexo. 'Então a fome fica pra depois.' Ele me pegou pela cintura e me tirou do chão me fazendo apertar mais meus braços em volta de seu pescoço.
Seu beijo cheio de segundas (e terceiras, e quartas...) intenções me fez sorrir enquanto ele caminhava cegamente até o quarto me fazendo bater duas vezes na parede provocando nossos risos. Quando passamos pela porta do quarto derrubamos um pequeno vasinho que ficava na estante, se o chão não fosse encarpetado ele certamente teria se partido em vários pedacinhos.
De alguma forma que eu realmente não sei qual, quando dei por mim já estava sendo prensada na parede ao lado da cama enquanto as mãos de Arthur percorriam toda a extensão alcançável do meu corpo e eu fazia o mesmo com ele. Seus beijos chegaram até meu pescoço e eu respirei fundo sentindo um arrepio passar por minha nuca. Arthur tirou minha blusa rapidamente e ela foi arremessada para o outro lado do quarto me fazendo rir enquanto ele voltava sua atenção pro meu pescoço novamente.
'Deus, como eu senti falta de cada curva do seu corpo.' Ele sussurrou passando a mão por minha cintura e eu devo ter esquecido de como respirar por alguns instantes.
Arthur levou uma de suas mãos até minha nuca, enquanto a outra ainda estava em minha cintura e beijou meu queixo mordendo meu lábio inferior logo depois. Puxei sua camisa pra cima desajeitamente e ele levantou os braços sorrindo deixando a camisa cair aos nossos pés. Num movimento rápido ele me desencostou da parede e me deitou na cama ficando por cima de mim e encaixando uma de suas pernas dentro das minhas. Afrouxei seu cinto e abri apenas o botão de sua bermuda folgada empurrando-a pra baixo, ele mesmo terminou de tirá-la e a chutou pra fora da cama me fazendo rir.
Passei levemente minhas unhas por suas costas e foi a vez dele ofegar me fazendo sentir completamente vitoriosa. Arthur desceu as mãos para a barra da minha calça do Bob Esponja e sorriu a descendo um pouco.
'Você sabe que eu amo essa calça, certo?' Ele perguntou me olhando e eu balancei a cabeça confirmando. 'Mas nesse exato momento ela é um pouco inconveniente e vai ter que, literalmente, voar daqui.' Ele sorriu e tirou minha calça a arremessando do outro lado do quarto.
'Não precisava jogar tão longe!' Reclamei fazendo bico e ele arqueou a sobrancelha.
'Ou eu ou ela.' Ele sorriu de lado.
'Ah, droga, injustiça com a coitada.' Falei rindo e o puxei novamente colando meus lábios nos seus.
Não foram nescessários mais que alguns minutos para que todas as nossas roupas estivessem espalhadas pelo quarto e eu me sentisse completa de novo. Pode parecer clichê, mas naquele momento mais do que em qualquer outro eu tive certeza de que Arthur era meu e somente meu. Amigo, namorado, marido, amante, não importava, ele era simplesmente meu.
'Vocês devem ter surtado quando a gravadora disse que queria contratar vocês.' Falei rindo com a cabeça encostada no peito nu de Arthur que acariciava meus cabelos.
'Surtamos mesmo, o Chay foi o pior, achei que ele fosse desmaiar até.' Rimos. 'Foi legal irmos sem nenhuma pressão, acho que por isso estávamos tão tranqüilos no dia. James já tinha nos garantido que já estávamos praticamente contratados, isso relaxou mais a gente.' Ele comentou olhando algum ponto fixo no teto do quarto.
'Mas ainda assim deve ter batido aquele friozinho na barriga.' Levantei a cabeça o olhando e ele voltou o olhar pra mim também.
'Deu, mas isso eu acho que vai sempre dar. É um nervoso legal.' Ele sorriu. 'E nós conhecemos esse empresário muito gente boa, ele chama Fletch e ficou realmente impressionado com a nossa apresentação.'
'Claro que ficou, todo mundo fica. Vocês são fodas, de fato.' Falei vagamente e ele me olhou novamente. 'Quê?' Arqueei a sobrancelha e ele riu.
'Você paga muito pau pro seu namorado, Lu. To começando a ficar com ciúmes dele.' Ele fez careta e eu ri. A palavra namorado nunca me pareceu tão linda.
'Ai como você é besta, Arthur.' Balancei a cabeça. 'E eu não pago pau pra ele, eu apenas tenho orgulho dele e dos três amigos idiotas dele, porque eu sei o quanto eles lutaram por isso.' Sorri sincera e me estiquei um pouco alcançando seu lábios lhe dando um selinho rápido.
'Eu sei que sim. E é por isso que eu amo ter você do meu lado.' Ele acariciou minha bochecha me fazendo corar levemente. 'Já disse que você é linda?' Ele sorriu de lado e eu rolei os olhos sem controlar um sorriso.
'Ai, cala boca, vai, Arthur.' O puxei novamente pela nuca colando minha boca na dele.
'Sabe?' Ele se afastou me olhando e eu esperei que ele falasse. 'Acho que não matei por completo a saudade ainda.' Sorriso tarado.
'Ótimo, eu também não.' Dei um risinho e deitei por cima de Arthur colocando uma perna de cada lado do seu corpo fazendo com que ele me olhasse com a sobrancelha arqueada. 'Minha vez!' Falei baixo antes morder seu lábio inferior o fazendo sorrir enquanto suas mãos viajavam mais uma vez por meu corpo me fazendo ter ainda mais certeza de que ele era inteiramente meu.
Senti alguém beijar carinhosamente meu olho e sorri instantaneamente.
'Acorda, dorminhoca.' Arthur sussurrou e eu abri os olhos o encontrando com um sorriso na minha frente.
'Dormi muito?' Perguntei esfregando os olhos e ele balançou a cabeça negando. 'Tá com fome?' Ele me olhou e sorriu.
'Na verdade tô, você me cansa, Lu!' Ele deu um sorriso de lado me deixando totalmente sem graça. 'Há, senti saudade de te deixar vermelhinha!' Ele me zoou e eu dei língua me sentando na cama.
'Eu comprei muffins e fiz o suco que você gosta.' Sorri o olhando e ele me encarou por alguns instantes. 'Quer que eu traga aqui?' Perguntei arqueando a sobrancelha e ele sorriu me fazendo rir. 'Ai que trabalho que você e o Diego me dão.' Me levantei catando minhas roupas, por sorte a calcinha e o sutiã estavam bem do lado da cama, e como a blusa dele também estava mais perto e a vesti rapidamente e sai do quarto.
Arrumei uma bandeja com os muffins, um copo de suco, algumas uvas, torradas com geléia e coloquei o jarrinho com a margarida. Quando voltei pro quarto ele estava sentado na cama já com a boxer.
'Oba, muffins da Starbucks!' Arthur falou com um sorriso bobo quando eu botei a bandeja em sua frente.
'Eu tentei fazer alguns, mas hm... não deu muito certo!' Fiz uma cara inocente e ele riu. 'Sou um desastre na cozinha, fato.' Balancei minha cabeça e roubei algumas uvas que estavam na bandeja.
'Ei, é tudo meu.' Arthur falou de boca cheia e eu lhe dei um tapinha no braço enquanto sentava ao seu lado. 'Brigado, pequena.' Ele falou carinhoso dando um beijo no topo de minha cabeça.
'Pelo café?' Sorri o olhando.
'Por tudo.' Ele me deu um selinho rápido e voltou a atenção para a bandeja à sua frente enquanto eu sorria abobalhada roubando mais algumas uvas.
'Ele vai surtar quando te ver aqui.' Comentei fazendo Arthur rir. Estávamos no pátio da escola de Diego esperando o sinal do fim das aulas. Poucos minutos depois as crianças começaram a sair das salas e Diego apareceu no meio delas.
'Paaaai!' Ele gritou enquanto corria até Arthur que o carregou beijando sua bochecha. 'Tava com saudade.' Ele falou sorrindo.
'Também tava, pequeno!' Arthur o ajeitou no colo. 'Quer almoçar no shopping e depois ir naquele parque que tem lá?' Ele perguntou já sabendo a resposta e Diego concordou animadamente. ( When You're Gone – Avril Lavigne)
"When you walk away
I count the steps that you take
Do you see how much I need you right now?"
Avril Lavigne tocava no som do carro e eu sorri observando as ruas movimentadas passarem lentamente. O sol brilhava no céu e a temperatura não poderia estar mais agradável, nem quente e nem frio, era simplesmente agradável.
'Como é lá em Dublin?' Perguntei voltando minha atenção pra Arthur que dirigia com um sorriso no rosto.
'É legal, mas eu ainda prefiro Londres.' Ele me olhou rapidamente e eu sorri. 'Ou então a Austrália, quero morar lá um dia.'
'Quando você ficar famoso você pode ir.' Dei de ombros e ele riu.
'Você vai comigo?' Ele perguntou e eu arqueei a sobrancelha. 'Claro, você acha que eu vou abandonar você e o Diego?' Ele me olhou novamente e eu balancei a cabeça voltando a olhar pra fora da janela.
"We were made for each other
Out here forever
I know we were…"
Pra mim tudo aquilo mais parecia um sonho, às vezes eu tinha medo de cair da cama e acordar voltando pra realidade. Olhei pra Arthur que dirigia tranquilamente e tive que reprimir a imensa vontade de simplesmente falar um "eu amo você" e ver qual seria a reação dele.
'Que foi?' Ele me olhou de canto de olho e eu balancei a cabeça ficando um pouco sem graça.
Porque era tão difícil falar eu te amo para o cara que, bem... eu amava! Medo de ser rejeitada, ou magoada novamente. Medo dele simplesmente dizer "obrigada" que nem o Ryan fez com a Marissa em The O.C., ou então era medo dele responder "eu também amo você".
'Arthur.' Falei hesitante quando ele parou em um sinal e olhou pra mim. O observei por alguns instantes e repeti as três palavras mentalmente. 'Eu... senti sua falta!' Foi a única coisa que eu consegui dizer.
'Também senti sua falta.' Ele sorriu enquanto eu me amaldiçoava mentalmente por ser tão covarde e o sinal abriu desviando sua atenção para o transito novamente.
Sentada no banco eu observava Arthur e Diego irem em todos os brinquedos possíveis do pequeno parque que ficava no primeiro andar do shopping. Era incrível observar a semelhança entre eles, não só física, mas até nos gestos e atitudes, ninguém nunca poderia duvidar que eles são pai e filho. Eu amava a cumplicidade que existia entre eles, a forma com que eles se tratavam, só o jeito com que Diego olhava o pai já me deixava impressionada. Era como se Arthur fosse um super herói e Diego quisesse ser igualzinho a ele, era um olhar de admiração, de carinho, de orgulho.
Me perguntei como Diego conseguiu agüentar firme todo aquele tempo em que Arthur ficou no hospital, ele tinha apenas dois anos e mesmo assim conseguiu ser maduro o suficiente para apenas choramingar de vez em quando pedindo pelo pai.
Observei os dois brincando em um simulador de corrida, como Diego não conseguia alcançar o pedal, ele estava no colo de Arthur rindo mais do que qualquer outra criança por ali. Eu sorri por causa da risada gostosa dele, mas meu sorriso se desfez ao ver que uma garota também olhava os dois brincarem. Ela estava um pouco afastada de mim e mais perto do simulador. Permaneci olhando-a atentamente, até Arthur e Diego se levantarem do brinquedo, antes que eles pudessem dar um passo até mim a ouvi chamando o nome de Arthur. Eles se conheciam?
A morena se aproximou dele sorrindo enquanto Arthur ainda a olhava como se não conseguisse reconhece-la, deu dois beijinhos na bochecha dele e depois falou alguma coisa que a minha falta de técnica em leitura labial não me permitiu entender. Não sei o que ela falou, mas deve ter sido algo bem esclarecedor já que Arthur soltou um "aaah" em compreensão e depois sorriu. Ele lembrou dela, fato.
Controlei minha imensa vontade de me levantar e permaneci sentada no banco os olhando atentamente, alguma coisa me dizia pra confiar em Arthur e permanecer aonde eu estava. Diego segurava na mão do pai e olhou pra mim por alguns instantes com um sorriso no rosto, eu sorri de volta e ele olhou para a garota parada na frente dele que ainda conversava com Arthur. Ela sorriu. Ele sorriu. Eu suspirei contando mentalmente até dez. Menos de um minuto depois vi Arthur apontar pra mim sorrindo e li em seus lábios as palavras "minha namorada". Eu sorri um pouco sem graça enquanto eles caminhavam até mim.
'Suzy, essa é a Lu, minha namorada e mãe do Diego.' Arthur pousou a mão em minha cintura enquanto eu sorria para a garota em minha frente. 'Lu, a Suzy foi minha colega a uns... erm, mais de cinco anos atrás.' Dei dois beijinhos em Suzy enquanto sentia Diego abraçar minha perna. Ele odiava não ser o centro das atenções. O carreguei enquanto ouvia Suzy e Arthur voltarem a conversar sobre qualquer coisa da ex escola deles.
Alguns minutos se passaram e eu olhei para os lados um pouco incomodada por estar boiando na conversa dos dois, eles conversavam como se conhecessem a anos, e de fato eles se conheciam. O celular de Suzy tocou e ela leu rapidamente o que eu deduzir ser uma mensagem.
'Aw, eu tenho que ir, meu namorado já tá me esperando no cinema.' Ela sorriu e Arthur concordou silenciosamente. 'Foi um prazer te rever, Arthur!' Ela o abraçou e deu dois beijinhos em suas bochechas.
'Adorei te ver também, Suzy.' Ele foi simpático e eu senti uma pontada de ciúmes, sem nescessidade, eu sei, mas o que eu podia fazer?
'Tchau, Lu!' Ela me deu dois beijinhos e depois sorriu passando a mão pela cabeça de Diego. 'Tchau, Diego!'
'Tchau!' Ele sorriu fazendo com que ela soltasse um "awn" achando ele fofo.
'Vocês foram colegas a muito tempo?' Perguntei vagamente enquanto caminhávamos para o estacionamento do shopping.
'Hm... devem ter uns sete anos.' Ele falou pensativo. 'Por quê?' Arthur arqueou a sobrancelha e me olhou.
'Nada.' Forcei um sorriso. 'Vocês pareciam um pouco íntimos.' Falei medindo as palavras sem querer deixar transparecer que eu senti uma pontada de ciúmes.
'Ciúmes?' Arthur abriu um sorriso torto que me fez perder a linha de raciocínio por alguns segundos.
'Tenho motivos?' Respondi com outra pergunta e senti que Arthur ficou um pouco desconfortável antes de responder.
'Não.' Ele me olhou por um segundo e depois desviou o olhar.
'Era só uma brincadeira, Arthur.' Falei sem entender, mas ele não me olhou. 'Arthur!' Segurei sua mão o fazendo parar de andar e ele finalmente me olhou. 'O que aconteceu? Eu perguntei aquilo só brincando, eu fiquei com um pouco de ciúmes sim da Suzy, mas só porque você foi simpático com ela e eu sou uma idiota, só isso.' Botei Diego no chão e o segurei pela mão, ele nos olhava sem entender.
'Não tem motivos.' Ele falou novamente e depois olhou pro chão coçando a nuca. Cruzei meus braços o olhando esperando uma resposta concreta. 'Ela foi minha primeira namorada.' Ele finalmente soltou e eu mordi o lábio sentindo ainda mais ciúmes, mas ainda assim o achando desnescessário. 'Faz muito tempo, a gente devia ter uns 13 ou 14 anos, mas eu não lembro se a gente ficou depois disso.' Ele suspirou e eu lembrei que depois daquela época não existiam mais memórias em sua mente.
Me aproximei dele e peguei sua mão a apertando carinhosamente.
'É ciúme bobo, Arthur. Eu sei que não tenho motivos pra isso.' Falei firmemente e ele me olhou esboçando um sorriso fraco.
'Desculpa, isso foi idiota da minha parte.' Ele me abraçou beijando minha testa.
'Tudo bem, nós somos dois idiotas ciumentos bobos!' Ele riu alto e eu sorri amando o som da risada dele. 'Vai, vamos pra casa.' Me separei dele e peguei sua mão voltando a caminhar em direção ao estacionamento.
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