Capítulo 1 – Numa época em que uma agulha caindo no chão é motivo pra se jogar da janela...
Londres, Fevereiro de 2005 - 7 anos atrás.
Pipipipi-pipipipi... 6:45 da manhã, despertador tocando. ‘Eu não estava com nenhuma saudade da sua voz, sabia?!’ Ela pensava enquanto tateava a mesinha ao lado da cama procurando o despertador pra desligá-lo. Depois de derrubar meio mundo de coisinhas e finalmente desligar o despertador, ela deixa seu braço esquerdo "despencar" pra fora da cama e em seguida o mesmo com a perna esquerda. Abrir os olhos era a última coisa que Lua pensava em fazer.
Meia hora depois, passou correndo pela cozinha.
- Tchau mãe!
- Não vai comer nada? – Maria Claudia preocupou-se com a histeria da filha.
- Não mãe, estou atrasada! Nem era pra eu estar aqui ainda! – ela beijou o rosto da mãe com tanta pressa que foi mais um empurrão com a boca do que um beijo. E saiu...
Lua caminhava até a escola, que não era tão longe. Era a única hora que ela podia pensar tranqüilamente, caminhando pelas ruas do bairro tranqüilo onde tinha a sorte de morar, sim ela adora seu bairro! ‘Tomara que minha best esteja na mesma sala que eu... e tomara que aquelas metidas estejam em outra bem distante da nossa! Como tem gente metida nesse colégio.’
- LU! – Soph interrompeu os pensamentos da amiga pulando em cima dela, as duas estavam em frente à porta da escola – Sétima série! – Soph falou abrindo os braços e movendo a cabeça pra cima.
- Acorda Sophia... Até parece que é grande coisa.
- Claro que é! Nós já estamos prestes a completar os treze e é quando os meninos mais bonitos e as coisas mais legais acontecem na nossa vida!
- Sei... – Lua olhou pro lado num total desânimo.
- Anda, vamos ver se estamos na mesma turma!
Claro que elas estariam na mesma turma. As duas estudam nessa escola desde a primeira série e sempre estiveram juntas, onde uma estava, a outra estava também.
Entraram na sala e sentaram na mesma localização de sempre; na fileira do canto, nem no fundo da sala onde ficava a turminha de pseudo-rockers e nem na frente beijando a mesa do professor; pelo meio. Distraíram-se mostrando seus novos materiais escolares (lê-se: agendinha, canetinhas coloridas, fichário com folhas decoradas e todas essas frescurinhas) uma à outra, mas não puderam deixar de olhar quando um garoto novato passou pela porta.
- Quem será esse menino? – Lu perguntou baixinho movendo o rosto em direção à amiga mas sem tirar o olhar de cima dele.
- Nunca vi... – Soph deu de ombros e voltou a rabiscar alguma bobagem testando as cores das canetas de Lua. Viu que a amiga ainda estava parada observando o garoto – Gostou dele ou perdeu alguma coisa ali?
- Hun... o quê... erm... – Lua voltou seu olhar pra amiga e ficou sem graça. – Deixa de bobagem Abrahão! Eu só fiquei curiosa, dá licença?! – Fato! Ela só chamava a amiga pelo sobrenome quando ficava sem graça.
O tal garoto sentou na frente, na fileira do meio. O professor entrou e pediu que os alunos dissessem seus nomes, Arthur Aguiar era o nome dele. Durante toda a aula, Lua não tirou os olhos dele, mesmo ele estando de costas pra ela ‘Como será o jeito dele? No final da aula eu falo com ele!’ e ficou pensando nessas bobagens enquanto não fazia a mínima questão de ouvir o que o professor falava e muito menos de saber que matéria ele ensinaria durante o resto do ano.
Trimmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
O longo sinal tocando e ensurdecendo todos os presentes, fim daquela aula.
Sophia e Lua se levantaram e começaram a caminhar em direção a saída da sala, mas Lua ainda não tinha esquecido sua idéia de passar na mesa do aluno novo e puxar um assunto com ele antes de sair.
Quando as duas estavam a alguns passos do menino, Britanny chegou como um foguete e sentou na carteira ao lado dele, com aquele sorriso de “vem-ni-mim-que-eu-tô-facim”. Por razões óbvias, Lua adiou seu papo com o tal garoto mas passou olhando pra ele, queria gravar aquele rosto tão perfeito na memória. Ela não o viu mais aquele dia, apenas na hora da saída. Ele caminhava com Britanny no seu encalço.
- Ótimo... Agora ele vai ser da turma daquela metida e não vai nem querer saber meu nome. – Lua disse cabisbaixa à caminho de casa com a amiga ao seu lado.
- Quem Lu? Do que você está falando?
- Ah, não! Eu estava pensando alto.
- Mas você pensava sobre quem então?
- Que curiosidade! Quer invadir até meus pensamentos... Coitado do ser que namorar a sério com você algum dia, vai afogá-lo nas perguntas!
- Não foge, Lua! Eu sou sua amiga ou não sou, poxa?
- Ah... É que o Arthur, ele...
- HÁAAAA! – Sophia não deixou Lua completar sua frase e começou a apontar os dois dedos indicadores na cara dela. – Eu sabia, eu sabia que era ele! Você não tirou os olhos dele, eu vi! Se olhar tirasse pedaço ele estava dividido em muitas partículas, dona Lua, pensa que eu não vi? Eu sou demais!
- Se sabia, por que ficou enchendo pra eu dizer, criatura?
- É que eu queria ver a sua carinha derretida ao pronunciar o nome dele... ‘É que o Arthur, ele...’ – ela disse debochada imitando a amiga com gestos exagerados pelo meio da rua e levou um tapa na cabeça.
- Pára com essa palhaçada ou os vizinhos vão confirmar que nós cheiramos!
- Tá bom, mas falando sério agora... Você não tem mau gosto, ele até que é bonitinho, mas não faz meu tipo! Você sabe de quem eu gosto desde o ano passado...
- O professor de Química... – Lua deu um longo suspiro e revirou os olhos, estava cansada de ouvir a amiga dizer que gostava de um cara oito anos mais velho.
- Sério, Lu! Um dia o Chris vai me notar, pode escrever o que eu estou dizendo!
[n/a: sim, o professor Chris é inspirado no Christopher Robert Evans, ou Chris Evans como preferir... Com um professor de quimica desses, eu tatuava um 20Ca nas costas! Não, melhor, a tabela inteira!]
Agosto de 2006 - 6 anos atrás.
- Ai Lu! Não fica assim... Vem, tem sorvete de chocolate na geladeira!
Lua foi dormir na casa de Sophia. Estava mal mais uma vez por ver Arthur desfilando abraçado com uma menina o tempo todo, eles passaram umas cinco vezes na frente dela na hora do intervalo.
- Não me conformo, Soph! Que raiva eu tenho de mim por sofrer por um cara tão galinha! Por que ele age assim?!
- Vai ver são os hormônios... Ele só tem 14 aninhos, Lu! Igual a nós! Só que nós parecemos um pouco mais adestradas porque somos meninas!
- Droga... A cada menina diferente que ele pega é como se me fizessem mais um furo no estômago.
- Já vi que até o fim do ano eu não vou ter mais amiga e sim um queijo suíço. – Soph murmurou tão espontaneamente que as duas se olharam e desataram a rir.
- Você precisa arrancar esse Arthur de você, dedetizar, pulverizar, desinfectar, incinerar, esfumaçar, desmaterializ... Outch! – Sophia levou um tapa na testa depois de tantos sinônimos para a frase ‘Esquecer Arthur’.
- Tá bom, eu já entendi! Vou fazer tudo isso aí, mas pára de falar, aff!
- Se bem que...
- Se bem que o quê?
- Vocês são amigos e... ele tem uma queda enorme por você, não?
- Arthur Aguiar? A fim de mim, com tantas garotas lindas pela escola? Impossível!
- Claro que ele é! Ou você não percebe o jeito como ele vem cumprimentar nós sempre com aquele sorriso de “bebê assistindo Teletubies”?!
- Grande coisa, Soph... Ele está SEMPRE com aquela cara!
- Mas quando ele te vê, consegue piorar! E se ele quiser ficar com você?!
- Você não já me perguntou isso hoje?
- Sim e você fujona como sempre não respondeu... Se ele chegasse em você, ficaria com ele?
- Na verdade, eu acho que ele quer ficar com todo mundo! Até a irmã dele ele pegaria se tivesse uma da minha idade! Mas comigo isso não rola! Pra quê?! Pra depois de dez minutos ele estar com outra e eu sentir meu estômago, meu fígado e todo meu aparelho digestivo explodir de uma vez e eu querer me matar ali mesmo?!
- Ai, minha amiga dramática... – Soph sacudiu a cabeça numa negação e passou um braço no ombro da amiga – Quer saber?! Eu tenho certeza que se ele chegasse com aquele sorriso de Mickey-Mouse-apaixonado pra cima de você, o seu cérebro simplesmente abandonaria seu corpo!
- Por incrível que pareça, você tem razão dessa vez... Acho que eu não resistiria.
- Claro! E pra que fugir? Aproveita ué!
- Não... Se é pra virar só mais uma na lista quilométrica, eu prefiro nem chegar perto!
- Você é uma medrosa! No seu lugar eu dava uns bons amassos nele e aproveitava bem, nem que fosse só uma vez! Ele deve beijar muito bem pra várias meninas quererem ficar com ele. Sem contar que depois que uma garota fica com ele, vários outros meninos caem em cima e a menina fica popular por uma semana! Eles parecem gostar dos restos do Arthur e você devia mesmo aproveitar!
- Olha as bobagens que você está falando sem parar... O que é que tem nesse sorvete, hein? Melhor irmos dormir.
- Tá bom... – Sophia se levantou do sofá e elas começaram a andar em direção a escada.
Junho de 2007, 5 anos atrás
- Mais um ano que se passa... Estou com 15 anos, no primeiro ano do ensino médio e nada mudou!
- Como assim nada mudou?! Agora temos peitos! Outch! Por que você me bate o tempo todo?! Vou perder meu cérebro daqui a pouco!
- Você só fala besteira, nunca vi! E você não vai perder o cérebro porque não se perde o que não se tem!
- Tá bom, eu posso não ter cérebro, mas eu tenho coragem, coisa que você nunca teve!
- Do que você ta faland... ah não! O que você fez agora? Tentou dar em cima do professor de novo?
- Hoje eu esbarrei no Chris! – Sophia começou a sorrir com cara de boba – Ele cortou o cabelo, ficou simplesmente ‘uau’!
- E o que você falou pra ele?
- Que ele estava um gato e o corte novo combinou.
- OMG! Não acredito! Isso ainda vai dar encrenca...
- Você precisava ver como ele ficou coradinho!
- Bom dia! Abram o livro na página 235, vamos estudar as Américas hoje. – o professor Brendan de geografia falou entrando na sala.
O professor Brendan é um senhor de 57 anos, muito simpático e bem humorado! As aulas costumam ser engraçadas, o que estraga um pouco é que ele tem um problema de dicção e às vezes não se entende o que ele diz.
No decorrer da aula, Lua estava tentando entender o que o professor Brendan explicava, olhou pro lado e viu Arthur lá na fileira do outro canto olhando pra ela, seu olhar cruzou com o dele por alguns segundos e apesar dos 6 metros (assim, chutando a largura da sala) de distância, era como se ninguém mais existisse e os dois estivessem frente à frente. Depois ele desviou, porque o Brendan perguntou pra ele alguma coisa sobre a cultura do México.
- Aw... erm... elesfalammexicano! – Arthur virou pro professor assustado e respondeu rápido a primeira coisa que lhe veio à cabeça. Todos riram da resposta dele.
xxx
- Ai desculpa, mas esse menino é muito esquisito, tem horas que ele pega e fica pasmando, nunca vi uma coisa dessas... – Sophia falava de Arthur enquanto abocanhava um sanduíche, era o intervalo e estavam caminhando pelo pátio da escola.
- Eu tô lá tentando entender o que Brendan falava com aquele jeito de Patolino, e quando eu olho pro lado ele estava lindo lá no canto dele e... só desviou quando o Patolino fez a pergunta!
- Sim! – Sophia desatou a rir levando a mão à testa.
- Ele não tem cara de ser burro, todo mundo riu dele, coitadinho... Por que será que ele deu um fora desses?
- Por causa de você, criatura! Ele estava no mundo da lua, não entende?
- Pára de falar que ele gosta de mim, caramba! Se ele gosta, então por que ele passou por mim hoje na entrada da sala e nem disse ‘oi’?
- Erm... Será que é por que você estava conversando super animada com aquele moleque da outra sala? – Sophia perguntou como se fosse óbvio.
- Primeiro: O nome dele é Matthew e não moleque! E depois, eu não estava ‘super animada’, eu só ri porque ele contou uma piada, só isso... e ele só veio me pedir a matéria da última aula de física emprestada.
- Certo... E por que diabos você acha que ele ia querer a matéria de uma aula que vai ser passada na sala dele amanhã ainda?
- Verdade... As aulas de física deles são nas sextas. Nem tinha lembrado disso!
- Acorda sua lesada! Ele só veio puxar assunto com você! E claro que Arthur percebeu! Você está muito tapada, não está percebendo as coisas! Onde anda o seu sexto sentido feminino?
- No mesmo lugar que a sua educação.
- Hey, não precisa me ofender não, eu só estou querendo te ajudar! Você nos últimos dias parece que está cada vez mais em Marte! O que está acontecendo?
- Ah sei lá... As coisas lá em casa estão estranhas.
- Como assim?
- Minha mãe anda estranha e meu pai mais ainda... – Lua deu de ombros, olhou pra frente e parou de falar ao ver Arthur se aproximando.
- Oi! – ele comprimentou as duas com beijinhos nas bochechas. – Posso falar com vocês?
- Uhum. – elas afirmaram com a cabeça e ele continuou.
- É que eu vou dar uma festa no sábado! Vocês não podem faltar meninas! – ele terminou e sorriu.
- Vamos sim! – Lua respondeu na mesma hora e sorriu de volta. – Algum aniversário?
- Não... É que eu vou me mudar. – Arthur desmanchou o sorriso e olhou com uma carinha triste.
- Sério? Pra onde? – Lua também desmanchou o sorriso instantaneamente.
- Meus pais vão se mudar pra outra cidade na semana que vem. Esse é meu último fim de semana aqui e como eles vão ficar até segunda arrumando a casa lá, eu resolvi fazer uma festa de despedida.
- Hum... – Lua abaixou o olhar, não sabia o que dizer. Sentiu que terminaram de furar seu pobre estômago de vez.
- E que horas começa a festa? – Sophia cortou o silêncio que se instalou.
- Podem chegar lá às oito! Vai ser le... – Arthur não terminou de falar ‘legal’ porque um de seus amigos pulou nas costas dele. – Saí de cima de mim, retardado! EU ESPERO QUE VOCÊS VÃO, NÃO ESQUEÇAM! – Arthur berrava pelo pátio enquanto ia sendo puxado pelo amigo. Os dois foram embora deixando uma Lua estática e uma Sophia preocupada com o estado da outra.
- Você não vai falar nada?
- Eu acho que ainda não me toquei! Ele disse isso mesmo, Soph? Vai sumir daqui pra sempre? Diz que eu estou tendo um pesadelo...
- Ai amiga, fiquei com dó de você agora... – Sophia passou um braço pelo ombro dela e elas foram caminhando devagar pra sala.
- Eu sou a culpada! Se eu não tivesse perdido tempo! Tem dois anos que nos conhecemos e eu sempre gostando dele em segredo, como eu sou otária.
- É, tem raz... ai, quer dizer... imagina, você não é otária! Só um pouquinho tímida e medrosa. Mas não fica assim não, porque vamos nessa festa e eu sei que estaremos lindas!
Lua deu um meio sorriso e elas entraram na sala.
Dia da festa!
- Lua, me empresta aqueles seus brincos de ouro branco que eu adoro?
- Claro, pode pegar! O que você acha se eu usar aquele colar que ganhei no meu aniversário de quinze anos? Ele era da minha avó, já te contei, né?
- Já! E eu acho que vai ficar perfeito! Coloca, você não usou ainda desde que ganhou! E toma, coloca também essa pulseirinha que eu te dei ano passado, por coincidência ela combina incrivelmente com o colar da sua avó!
- É, tem razão! – Lua pôs as jóias indicadas pela amiga. – Olha, o táxi chegou! – ela se aproximou da janela de seu quarto.
Sophia se arrumou lá também, uma ajudou a outra a escolher roupa e etc. Ao se aproximarem da porta da sala, Sophia se virou pra Lua.
- Lu, cadê a sua mãe? Não a vi a tarde toda... – estranhou a ausência da senhora Blanco que sempre fora tão atenciosa com as visitas, principalmente com ela que frequenta a casa desde criança.
- Deve estar trancada no quarto, eu falei que ela está estranha... – Lua deu de ombros e abriu a porta.
Ao chegar na casa de Arthur, Lua desceu do táxi guardando na bolsa o pequeno espelho onde se olhou a cada três minutos durante o caminho. Haviam algumas pessoas no gramado em frente à casa e a porta estava aberta. As duas foram entrando e olhando tudo ao redor, observando as pessoas, até que surge um Arthur extremamente lindo e bem vestido na frente delas.
- Oi! Que bom que vieram! – ele disse sorrindo e cumprimentando as duas. – Venham, lá no jardim está mais animado. – Arthur pegou Lua pela mão e saiu puxando, ela por sua vez puxou Sophia.
- Uau... – foi o único que Soph pôde dizer ao ver como o lugar era grande e estava bem decorado.
- Gostaram?
- Sim! – Sophia respondeu entusiasmada.
- Você gostou, Lu? – Ele se dirigiu à Lua que parecia estar numa espécie de transe.
- Claro, está tudo muito bonito! – ela corou e viu que ainda segurava a mão dele, ele também viu, os dois se soltaram e sorriram sem graça.
- Erm... Bom, eu preciso continuar recebendo os convidados. Se divirtam bastante, ok?!
- Tá, Arthur! Obrigada... – Lua foi interrompida pelos cutucões nervosos que Sophia dava em seu braço. – O que deu em você? Pára com isso, inferno!
- Cala a boca e olha quem está ali! – Sophia apontou com o olhar e logo Lua entendeu o ataque epilético da amiga, era o professor Chris!
- Nossa! O professor de química!
- OMFG! Não sabia que ele vinha! Se eu soubesse tinha me produzido mais!
- Mais?! Não viaja Soph, você já está linda!
Sophia estava com um vestido preto de frente única de comprimento até o joelho, cabelo preso num rabo de cavalo deixando os belos brincos à mostra e pra completar uma rasteirinha.
- Estou mesmo?! Ai obrigada, você também ficou demais!
Lua usava um vestidinho jeans tomara que caia, cabelo solto, seu lindo colar no pescoço e uma sandália de salto plataforma.
- Vem, vamos dançar! Tira o olho um pouco do Chris, até porque ele agora parece ocupado! – Lua se referia à conversa que Chris estava tendo com uma garota, os dois estavam bem próximos.
Sophia saiu fuzilando o casal com os olhos.
Naquele momento estava tocando Satisfaction do Benny Benassi, fazendo todo mundo se animar. As duas amigas gastaram horas dançando como se isso afastasse todos os problemas. Até que Sophia sentiu que precisava parar de pular por um tempo e foi pegar algo pra beber, enquanto isso um garoto que Lua não sabia o nome, mas já tinha visto pelos corredores da escola, se aproximou e começaram a dançar juntos.
Chris andava depressa entre as pessoas, esbarrou em alguns caras e em seguida entrou na casa. Sophia observava tudo enquanto bebia um licor de cereja... Momentos depois, ela avistou seu lindo Chris chegar na varanda de um dos quartos, que ficava praticamente acima da piscina, tanto que alguns bêbados haviam acabado de se jogar de lá. A menina viu ali, uma ótima oportunidade, não pensou duas vezes e foi atrás de seu sonho. Ela chegou e o avistou de costas, apoiando os braços no murinho de gesso, como quem está pensando na vida.
- Oi! Esperando alguém? – ela disse chegando ao lado dele.
- Não eu... só vim pensar um pouco!
- Está tudo bem com você? Eu te vi parecendo um tanto desesperado lá embaixo, aconteceu alguma coisa?
- Ah, aquilo? Quando eu sai correndo? – ele perguntou sorrindo. – Não, não... Eu subi rápido porque queria impedir aqueles idiotas que estavam dizendo que iam subir aqui pra pular na piscina, mas por sinal eu falhei! – eles olharam pra baixo e os dois garotos bêbados ainda estavam lá na água.
- Ainda bem que não se machucaram, não é?! – Sophia soltou o seu melhor sorriso colgate e viu que o professor a olhava de um jeito que nunca olhou.
- É... Está gostando da festa?
- Sim! Mas eu não imaginava que você viria.
- É, o Arthur é um garoto legal, só ele mesmo pra chamar um professor!
- Oh não... Não foi por isso que eu disse! É que se eu soubesse da sua presença eu caprichava mais no visual, sabe... – Sophia se aproximou dele e deu um meio sorriso quando viu que ele corou um pouco.
- Imagina, você está linda! – Agora foi a vez dela corar e ele sorrir.
De repente, as batidas da música psy que tocava cessaram e deram lugar a uma música suave, a primeira música calma da noite.
Lá no jardim, Lua ainda dançava com o mesmo menino, só que agora ele se aproximou e a tomou em seus braços.
I'm one man to make a difference
I'm one soul all persistence
In a dark world, just trying to make things right, yeah
Choices we weren't given
Any heroes and our decision
Is to stand up and fight for ourselves
To be free
Is all we want to be
When everything seems so far out of reach
But I know, no matter where we go
I'll never stop believing in me
Lua encostou sua cabeça no peito do menino que ela agora sabia o nome – Peter, do segundo ano B – e fechou os olhos imaginando que podia ser o Arthur no lugar dele.
Woke up bent and broken
Just to find that fate has spoken
And I call out I call out for change
For every moment that remains
For every sinking stone to find its place
Long before they're washed away
Ao acabar de pensar isso, sentiu uma leve vibração nos braços que a envolviam, abriu os olhos e levantou a cabeça. Viu que Peter estava sendo cutucado por Arthur! Peter cedeu Lua para Arthur e foi procurar outro par pra dançar depois que olhou pra ela e viu o sorriso bobo que se instalou na face da menina ao ver Arthur atrás dele.
To be free
Is all we want to be
When everything seems so far out of reach
But I know, no matter where we go
I'll never stop believing in me
Os dois estavam dançando juntinhos. Lua voltou a fechar os olhos, suspirando cada vez mais fundo como se quisesse aproveitar todo o aroma do perfume no pescoço de Arthur. Ele por sua vez, envolvia seus braços na cintura dela como se quisesse prendê-la para sempre, e sentia o perfume delicado que vinha de seus cabelos. Aquela música do The Calling acabou e começou outra, eles nem perceberam. [n/a: ouvir ‘meet you there’ do simple plan vai dar mais emoção enquanto você se imagina na cena... e eu sei que você deve tê-la jogada por aí em alguma pasta!]
Now you're gone
(Agora que você foi embora)
I wonder why you left me here
(Eu me pergunto por que você me deixou aqui)
I think about it on and on,
(Eu penso nisso sempre)
and on, and on, and on again
I know you're never coming back
(Eu sei que você nunca vai voltar)
I hope that you can hear me
(Espero que você possa me ouvir)
I'm waiting to hear from you
(Estou esperando pra ouvir de você)
Until I do
(Até que eu faça)
You're gone away
(Você se foi)
I'm left alone
(Fiquei sozinho)
A part of me is gone
(Uma parte de mim se foi)
And I'm not moving on
(E eu não consigo superar)
So wait for me
(Então espere por mim)
I know the day will come
(Eu sei que o dia chegará)
Na verdade, eles perceberam sim a música e estavam impressionados como aquela letra se identificava com o momento, ele tendo que ir embora, uma despedida onde tanto ele quanto ela sentiam que esperaram demais pra mostrar o que realmente guardavam dentro de si mesmos...
I'll meet you there
(Eu te encontrarei lá)
No matter where life takes me to
(Não importa pra onde a vida me leve)
I'll meet you there
(Eu te encontrarei lá)
And even if I need you here
(E mesmo que eu precise de você aqui)
I'll meet you there
(Te encontrarei lá)
I wish I could have told you
(Eu gostaria de ter te dito)
The things I kept inside
(As coisas que guardo dentro de mim)
But now I guess it's just too late
(Mas agora acho que é muito tarde)
So many things remind me of you
(Tantas coisas me lembram de você)
I hope that you can hear me
(Espero que você possa me ouvir)
I miss you
(Sinto sua falta)
This is goodbye
(Isso é adeus)
One last time
(Pela última vez)
(...)
Lua sentiu os lábios de Arthur passeando suavemente pelo seu pescoço, isso fez com que seu coração virasse uma bateria de escola de samba e um frio gostoso tomasse conta do estômago. Ela então se afastou um pouco pra poder olhar o rosto dele, mesmo assim, estavam ainda muito próximos e logo a respiração um pouco ofegante dos dois fazia cócegas nos lábios um do outro. Arthur afastou alguns fios de cabelo que o vento acabara de soprar no rosto dela, com muita delicadeza tocou seu queixo e encostou a boca na dela. Depois ele passou a língua em seu lábio inferior sentindo o gosto do protetor labial de morango. Lua abriu a boca e deu passagem para que a língua dele se encontrasse com a sua, fazendo-a se sentir como se estivesse tirando os pés do chão.
(…)
I'll meet you theeeeere...
And where I go you'll be there with me
(Pra onde eu for você vai estar lá comigo)
Forever you'll be right here with me
(Você vai estar comigo pra sempre)
I'll meet you there
No matter where life takes me to...
Os braços de Arthur a envolviam com firmeza, pressionando-a cada vez mais contra o próprio corpo. Ela segurava a nuca dele com uma das mãos e deslizava pelas costas dele com a outra.
...I'll meet you there
No matter where life takes me!
I'll meet you there
and even if I need you
I'll meet you there
(I'll meet you, I'll meet you, I'll meet you)
I'll meet you there
(I'll meet you, I'll meet you, I'll meet you)
I'll meet you there
O beijo durou até aquela música acabar. Eles abriram os olhos, Lua se sentiu voltando ao chão novamente, Arthur sentia como se várias joaninhas estivessem andando dentro da barriga, ele não sabia explicar aquela sensação toda e nem o porquê de ter esperado tanto pra fazer isso. Não queria gostar de alguém justo agora que estava indo embora. Os dois continuavam se olhando, mas uma tontura tomou conta dele fazendo a visão se tornar escurecida e ele quase caiu pra um lado. Lembrou-se que a única coisa que comeu o dia inteiro foi uma garfada num macarrão instantâneo, que nem teve tempo de comer todo por conta dos preparativos com a festa. Ele recuperou o equilíbrio depois de cambalear um pouco.
- Tudo bem? – Lua segurou um dos braços dele.
- Erm... No-nossa... Manda parar de rodar! – Ele não estava mais tonto, mas começou a se fingir de bêbado.
- Arthur, você já deve ter passado da conta hoje, não é?
- Ai... Me solta, você não é minha mãe! Bebi mesmo, essa é a minha despedida, caraíí!
- Claro... Nem deve saber o que está fazendo... – ela afirmou mais pra ela mesma, num tom de voz triste.
- Sei sim! Eu estou me despedindo da minha escola pegando o máximo de gostosinhas fúteis que eu puder!
Lua não achou essa última frase muito agradável e sentou a mão no rosto dele.
- Você não passa de um estúpido, Arthur Aguiar! – ela gritou com ele e saiu furiosa por uma direção qualquer, andando rápido e se trombando com todo mundo, só enxergava borrões à sua frente. ‘PQP! Parabéns otária, por que não viu que ele estava bêbado antes?!’ ela pensava.
Arthur ficou parado sentindo seu rosto formigar no local do tapa. Encerrou a encenação de bêbado e não sabia por que agiu assim, mas sentiu que era melhor, sempre quis ficar com aquela menina e quando consegue, está prestes a se mudar de cidade! Se amarrar mais a ela o faria sofrer depois que estivesse distante e sem poder vê- la. [n/a: ownn que fofo xp]
Enquanto tudo isso acontecia lá embaixo, Sophia continuava na sacada com Chris, e... sim! Ela o beijou! Chris passeava com as mãos pelas costas nuas dela, enquanto ela desabotoou alguns botões da camisa dele e alisava aquele peitoral malhado com uma das mãos e com outra mão baguncava os cabelos loiros dele. De repente, ele rompeu o beijo quando sentiu que estava ficando muito intenso, um sentimento de culpa tomou conta dos pensamentos dele.
- Desculpa! – ele olhava pra ela assustado e ofegante – Não era pra eu ter...
- Não precisa se desculpar. Você não gostou? Eu gostei e... – ela o olhava e estava sem ar também, viu que a boca dele estava com tons de rosa por causa do batom dela.
- Claro, gostei sim! – os dois estavam sem jeito, principalmente ele por ser o professor dela e a conhecer desde a sexta série – Mas isso foi errado! Você é minha aluna! E é menor de idade, se descobrem isso, acabam comigo!
- Você é meu professor lá dentro do colégio, aqui você é o Chris! Ninguém precisa saber da sua vida fora dos limites da escola!
- Erm... Tenho que ir! – ele abotoava os botões da blusa com um certo nervosismo, depois deu um beijo na testa dela e saiu apressado.
Lua chegou na frente da casa com o celular na mão pra chamar o táxi que a levaria de volta pra sua casa. Sentou numa escadinha depois da porta, ela não se conteve e deixou umas lágrimas ardidas cairem pelo rosto quente. Sophia estava procurando por ela dentro da casa e então mandou um sms.
LU! Onde você está criatura?!
Estou te procurando pela casa toda, xuxu!
Não me diga que está em algum quarto!
Soph.
Lua respondeu que estava na porta da saída e a amiga logo chegou, se sentando ao lado dela.
- Ué, por que você veio... Caramba dude, está chorando?!
Ela não respondeu nada, só abraçou Sophia que ficou sem entender porcaria nenhuma.
- Por que tem que ser assim?! Quero ir pra casa! – ela finalmente falou alguma coisa se afastando do abraço e passando as mãos pelo rosto – Dorme lá essa noite?
- Claro, tudo bem... Você vai me contar o que aconteceu, não vai? Foi o Arthur?
- Calma, quando chegar lá eu te conto... Se eu for contar agora só vou me irritar mais!
Sophia compreendeu e as duas ficaram em silêncio esperando o táxi, que logo chegou e quando elas caminhavam em direção à ele, Arthur apareceu na porta. Ele vinha correndo porque se arrependeu da ceninha que fez, queria dizer alguma coisa. Mas as meninas já estavam entrando e o carro arrastando.
Chegaram na casa de Lua, ela foi direto ao seu quarto e desabou de bruços na cama.
- E então? Vai me contar agora o que aconteceu e por que veio o caminho todo calada?
- Vou... – a garota se ajeitou sentando na cama. – Foi assim... – ela relatou tudo nos mínimos detalhes enquanto Sophia fazia altas caras e bocas.
- Nossa, que viadinho! Pelo menos ele te acha gostosinha... – Soph falou e Lua lançou um olhar mortal pra ela – Calma, relaxa... Ainda bem que ele vai se mudar, senão eu ia cobrir ele de porrada! – Sophia fez gestos exagerados simulando uma briga com o travesseiro fazendo a amiga rir descontroladamente.
- Acho que você já deu nocaute no meu travesseiro! Só você pra me fazer rir... Mas me conta, ficou com alguém?
- Sim! E eu te dou três chances pra adivinhar!
- Hum... O Tyson!
- Aquele magrinho dos olhos azuis, da nossa sala?
- Sim, ele queria ficar com você!
- Mas eu não... Pensa! Quem é a única pessoa que eu amo nesse mundo?
- Ah... Não, não é possível!
- É possível SIM!
- VOCÊ FICOU COM O PROFESSOR? QUE VACA! – Lua gritou rindo.
- Shhhh! Cala a boca, porra! – Sophia tampou a boca da amiga colocando uma almofada na cara dela. – Se a sua mãe escutar vai pensar o que de mim?!
- É que é incrível! Não acredito!
- É eu sei! – Sophia deu um sorriso bobo, abraçou a almofada de estrelinha azul que segurava e deixou o tronco cair pra trás, ficando deitada na cama. – Foi mesmo incrível e ele tem uma pegada que eu nem te conto!
- Mas quem foi que beijou primeiro?
- Eu, claro!
- E o que ele disse depois?
- Bom... – Sophia levantou e voltou a ficar sentada ao lado de Lua – Aí chegou a parte em que ele ficou todo sem graça e foi embora.
- Sério?! Que retardado, será que ele não gostou de ter ficado com você?
- Ele disse que gostou mais que estava errado e você sabe, todo esse papo...
- E agora? Tipo... daqui pra frente?
- E agora é que eu vou mesmo partir pro ataque, ele que me aguarde, filha!
- Ohh! – Lua tampou a boca com uma mão – Que amiga mais piranha que eu fui arranjar! – e jogou outra almofada no rosto da amiga, começando uma guerra boba entre a almofada de estrela e a de coração. Ao fim da guerrinha, Lua se levantou e foi ao banheiro. De repente Sophia ouve um grito lá de dentro.
- OH MY FUCKING GOD!
Ela então se moveu rapidamente até a porta e abriu com medo, imaginando que devia ter algum inseto asqueroso lá dentro.
- O que foi que aconteceu, Lua? Por que esse escândalo todo?
- Eu... eu... – Lua passou pela porta onde Sophia estava de pé sem entender nada – Eu... Perdi minha pulseira! – e começou a apontar para o pulso vazio onde devia estar a pulseira que ganhou de Soph.
- Céus! Vamos procurar, deve estar aqui no quarto, provavelmente se soltou durante a nossa guerra de almofadas!
Elas reviraram todo o quarto, sem nenhum sucesso. Depois tiveram a idéia de procurar pelo caminho que Lua fez ao entrar na casa e se dirigir ao quarto. As duas desceram as escadas olhando em cada degrau, em cada cantinho, até chegarem ao fim da escada e continuaram, chegando na porta da rua, que elas abriram pra olhar lá fora. Chegaram até a calçada sem encontrar nada.
- E foi aqui que eu desci do táxi.
- Pode ter caído no carro, ou... na casa do...
- Arthur! – Lua completou a frase da amiga e elas se entreolharam assustadas.
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