domingo, 10 de junho de 2012

A tatuagem

Capítulo 4 – A caixa do Pete. 

 

 

Uma semana se passou e já era segunda - dia de viajar pra casa do Micael e passar um mês longe de problemas! - Todo mundo acordou cedo, embora só fossem sair de casa depois das onze da manhã... Isso é porque as meninas ainda não tinham terminado de organizar tudo o que queriam levar! Lua separou numa caixa pra jogar fora todas as coisas que lembravam Pete. Era uma caixa de papelão verde, ali continham diversas coisas até mesmo aqueles bilhetinhos do começo do namoro.

- Já está com tudo pronto, Lu? É um mês inteiro, precisa de bastante coisa! – Ray perguntou sentando em cima de sua mala pra ver se conseguia fechar.
- Minha mala já está pronta, antes de ir eu só preciso jogar fora uma caixa com coisas do Pete... – Lua falou de costas, vestindo um agasalho. Ray olhou pra um canto e viu uma caixa rosa, mas Lua se referia à caixa verde que deixou em cima da pia do banheiro.
- Meninas, venham fazer um lanche! Não estão querendo viajar de barriga vazia, estão? – a senhora Blanco as chamava ao pé da escada, logo Ray e Lu saíram de um quarto e Mel saiu do outro. Tomaram chocolate quente com biscoitos e Lua terminou de comer primeiro, não estava sentindo um grande apetite naquela hora. Subiu até seu quarto novamente, escovou os dentes, depois pegou a caixa com os ‘restos’ de seu namoro com Peter e a levou pra fora. Se sentando no sofá da sala pra esperar as outras logo em seguida.
Robert ficou de levá-las até lá de carro, o mesmo ficou combinado na volta. Ele tirou seu carro da garagem e o deixou parado na frente da casa. Logo Lua e Mel apareceram, colocaram as três malas - uma de cada menina - no bagageiro e sentaram nos bancos traseiros do carro, só faltava Ray. A última saiu de casa carregando, além da mochila nas costas, a caixa rosa que tinha visto no quarto de Lua instantes atrás, caixa que - pra ela - Lua havia dito que jogaria fora. Então a garota depositou a caixa em cima de um dos latões de lixo que ficam em frente à casa e entrou no carro, se sentando no banco do passageiro animada. O pai começou a ligar o carro logo depois que ela fechou a porta e Julie acenava da porta de casa.
- Oi gente, cheguei! Lua, você esqueceu de jogar a caixa do Pete fora, não é?! – ela virou pra trás enquanto colocava o cinto, viu Lua com a cabeça inclinada pra trás, olhos fechados e fones de ouvido. Pegou um caderno no porta-luvas, arrancou uma folha, fez uma bola e jogou na menina que despertou rapidamente num susto arrancando os fones de ouvido.
- Que é isso?! Ficou maluca?
- Tentei falar com você, mas você não estava nem aqui!
- Foi mal... O que você queria falar?
- Que você esqueceu de jogar a “caixa do Peter” fora e eu tive que jogar pra você, sua esquecida.
- Eu não esqueci! Joguei logo depois que terminei de me arrumar.
- Então por que aquela caixa ainda estava lá do lado da sua TV?
- Fala de uma rosinha?
- Sim!
- OMG! Você a jogou fora?!
- Joguei... Não era?
- Não! O caminhão de lixo vai passar na nossa rua hoje! – Lua falava olhando pra algum ponto fixo à sua frente e com a mão sobre o peito. – Pára o carro!
Ao ouvir o grito desesperado de Lua, Robert freou bruscamente e a garota desceu correndo no sentido contrário ao que o carro ia. Todos lá dentro se entreolharam sem entender nada!
O carro já havia percorrido alguns metros então a menina precisou correr um pouco. Ao chegar viu que o caminhão de lixo realmente já estava na rua, mas ela foi rápida e pegou a caixa em suas mãos antes dos lixeiros com aquelas luvas sujas. Robert fez a volta com o carro e enquanto ela respirava aliviada apertando a caixa contra o peito, viu o carro do padastro parando na frente da casa deles outra vez. Ela foi feliz e saltitante pra entrar no carro abraçando sua caixa como se fosse um baú do tesouro sob o olhar confuso do rapaz da coleta de lixo que achou que ela devia ser maluca!
- Então você não ia jogar a caixa do Peter fora?! Que mentirosa! – Ray apontou o dedo pra ela assim que entrou no carro e fechou a porta.
- Não sou mentirosa coisa nenhuma! Essa não é a ‘caixa do Pete’! Aquela é a caixa do Pete, animal! – Lua apontou pra janela onde se podia ver um dos rapazes carregando uma caixa verde para o caminhão de lixo.
- E agora, podemos ir? – Robert se divertia com a situação.
- Podemos Bert!
- Você não quer subir e colocar essa caixa de volta no seu quarto?
- Não... agora que ela já está aqui, eu vou levá- la!
- Então se ninguém tem nada que possa impedir a nossa partida, vamos embora! – Robert ligou o carro e saiu logo antes que alguém inventasse outra coisa. Ele sem sombra de dúvidas é um ótimo cara! Lua sabia que sua mãe estava feliz agora e isso a fazia gostar mais dele.
- Se essa não é a caixa do Peter, é a caixa de quem então?! – Ray perguntou depois de algum tempo com aquele olhar desconfiado, se virando pra trás novamente.
- De ninguém! Aliás... Ela é minha, tem minhas coisas.
- Hm... Desculpa ter jogado ela fora.
- Desculpo sim, mas só porque eu consegui recuperar, senão eu ia te esganar! – elas riram e logo depois direcionaram seus olhares pra Mel, que não tinha dito nada até o momento e apenas olhava pelo vidro da janela com fones de ouvido.
Lua pegou um dos fones da orelha dela e pôde escutar “...you make it easy, it’s easy as 1, 2, 1, 2, 3, 4! There is only one thing to do, 3 words for you: I love you…” – Hum... – Lua murmurou depois de recolocar o fone na orelha da outra, que manteve os olhos na janela como se nem tivesse percebido que o som ficou ‘monofônico’ por uns instantes. Enquanto isso, Ray tratou de fazer outra bola de papel, que foi parar no meio da testa de Mel, fazendo-a despertar um pouco de seu transe.
- Hey! Quem foi a criança-problema que fez isso?!
- Quem mais podia ser? Ela está virando a maniaca das bolas de papel!
- E vai acabar com as folhas do meu caderninho. – Robert entrou na conversa mas voltou a prestar atenção no trânsito complicado que se formara à sua frente.
- Não é isso, é que vocês ficam viajando ou dormindo sei lá, aí eu preciso fazer alguma coisa! – Ray se defendeu.
- Eu não tava viajando! Eu estava só... olhando pela janela. Posso? Dá licença? – Mel retrucou.
- Estava olhando pela janela, mas com aquela música que você estava ouvindo, com certeza não era nesse prédio feio que você estava concentrada! – observou Lua.
- E eu sei em quem ela estava pensando, começa com C e termina com I!
- Não! Termina com Y! – Mel respondeu rapidamente sem perceber a armadilha feita por Ray.
- Hááá! Te peguei! É o Chay! – Ray esticou o braço e apontou o dedo na cara dela.
- Nãããão! Não era. Eu vou torcer esse dedo! – Mel pegou o dedo esticado que viu à sua frente e apertou com força.
- Aiai, me solta! Pai!
- Querem parar?! Vocês não têm mais idade pra isso! – Robert as repreendeu sem desviar o olhar da avenida.

A viagem toda prosseguiu assim. Às vezes todas ficavam quietas e logo Ray recomeçava a implicar com as duas meninas quando estas pareciam distantes.

Enquanto isso, Micael estava em casa, havia acabado de acordar e estava arrumando umas últimas coisinhas antes das meninas chegarem mais tarde. Até que alguém tocou a campainha e ele foi atender.
- Hey dude! Entra aí! – ele deu espaço e Arthur foi entrando e olhando a casa meio bobo, ela parecia mais arrumada que de costume.
- Fala Micaelzito! Eu vim saber se vamos ensaiar hoje.
- Não, hoje não vai dar, cara. Esqueceu que minhas primas chegam hoje, man?! Talvez elas cheguem cansadas, queiram dormir, sei lá... – Micael explicou dando de ombros e vendo o amigo prestes a colocar seus grandes pés em cima da mesinha de centro. – Hey, nem pense em colocar o pé aí! Eu acabei de limpar toda essa porcaria de sala!
- Já te disse que você vai ser uma ótima dona de casa?
- Muito engraçado, Aguiar. – e Micael se sentou na poltrona de frente pra ele.
- Sério, nunca vi essa casa assim, ela está sempre um chiqueiro!
- E a culpa é sempre de uns certos amigos retardados que eu tenho, sabe... Eles vêm, fazem a maior bagunça e vão embora.
- E você nunca ligou.
- É, mas hoje vão chegar visitas e eu não quero que elas fiquem com má impressão!
- Micael... Não é por nada não, mas já faz uma semana que você só fala nisso!
- Normal, né... Vou receber minha família, que eu não vejo faz tempo.
- Família... Sei... E aquela sua prima que você fala sempre mas eu nunca vi, como ela é?
- A Lua?
- Uhum, só conheço Rayana e Mel. Essas duas não são suas primas de verdade, não é?
- É, elas não são minhas primas legítimas, o pai delas se casou com a mãe da Lua e a mãe da Lua é que é irmã da minha mãe. Mas é claro que eu já gosto delas, porque elas são muito gente boa! Você sabe né, já conhece as duas...
- Sim, elas são legais, e são também muito HOTs! Ouch! – Arthur levou um pedala.
- Não fale assim das minhas primas, zé ruela!
- Mas você acabou de dizer que elas não são suas primas, caralho!
- Mas eu considero, ok? E não quero que você apronte com elas... e muito menos com a Lua!
- A Lua vai vir dessa vez, né?
- Vai! – ele respondeu feliz.
- Eu espero que ela não seja parecida com você, porque se for deve ser o cão! E muito chata!
- Cala a boca, seu cuzão! Ela é a garota mais linda e legal que você pode imaginar, tá bom?!
- Micael?! – Arthur se aproximou dele estreitando um dos olhos – Você é apaixonado por ela, dude!
- Claro que não! – Micael botou as duas mãos nos ombros do amigo e o empurrou pra longe. – Só por que você é incapaz de ter uma relação de irmão com uma menina, não vá pensando que eu sou como você!
- Então você e ela são como irmãos?
- Praticamente.
Depois que Micael respondeu, o celular de Arthur começou a tocar insistentemente.

I got no regret right now! (I'm feeling this)
The air is so cold and low! (I'm feeling this)
Let me go in her room! (I'm feeling this)
I wanna take off her clothes (I'm Feeling this)

- Não vai atender? Já está me irritando essa música sem parar, se você não atender, eu atendo!
- Não cara, vou desligar isso. Sabe quantas vezes a Delilah já me ligou hoje? VINTE E SEIS VEZES! Estou farto.
- E se for importante?
- Nunca é... – ele deu de ombros. Guardou o celular no bolso e levantou.
- Já vai?
- É... já que não vai ter ensaio da banda hoje, vou pra casa e à tarde eu vou sair por aí... talvez eu passe aqui depois pra conhecer sua prima.
- Ok. Vai sumir por aí de novo pra depois a Delilah ficar me perguntando onde você está e eu sem saber o que dizer?! Meu estoque de desculpas já esgotou, Aguiar!
- Ótimo. Diz a verdade então.
- Não acredito na sua falta de vergonha na cara, Aguiar! O que está acontecendo entre você e a Lilah? Você não era assim com ela antes. Onde está aquela coisa toda de chamá-la de docinho?
- O doce eu comi, já fiz digestão e virou merda... – enquanto Arthur filosofava, Micael fez cara de nojo. – Sabe aquela sensação que a pessoa só está com você por interesse? Pois é! E se é pra continuar assim quero que acabe logo.
- Mas você a ama ou não?
- No começo eu gostava bastante, não sei se cheguei a amar. Só que ela se tornou insuportável, sempre desconfiando de mim, mesmo quando eu não tinha feito nada, me ligando o dia todo, enchendo o saco.
- É, ela é ciumenta... mulheres assim são mais perigosas do que o Bruce Willis, Vin Diesel, Wolverine e um Transformer juntos!
- É eu sei! Mas antes que eu morra, deixa eu ir pra casa relaxar um pouco!
- Tchau, seu loser... – Micael fechou a porta rindo e sacudindo a cabeça.

Depois de quase duas horas dentro do carro, Robert, Ray, Mel e Lua chegaram ao destino, Bedford!
- Micael!
- Lua! – Micael estava na porta de casa, todo sorridente e com os braços abertos. Lua não fez outra coisa a não ser descer do carro e ir correndo pular nele imediatamente!
Mel olhou pra Ray com um sorrisinho malicioso, ela enfiou na cabeça que Lua e Micael eram ficantes desde... hum... SEMPRE?!
Depois de um tempo se cumprimentando, todos entraram na casa, Micael e Robert carregavam as malas das meninas. Elas se instalaram cada uma em um quarto e antes de voltar pra Londres, Robert deu várias e várias e várias e intermináveis recomendações.
- Dormir! – Mel subiu as escadas correndo depois que Robert foi embora.
- Banho! – Ray subiu correndo logo em seguida.
- Comida! – Lua imitou a voz das outras duas e olhou pra Micael dando risada, e então os dois foram pra cozinha.

- E aí, como vai com a banda? – Lua se sentou numa cadeira enquanto Micael pegava um bolo de chocolate na geladeira.
- Estamos bem! Cada vez mais eu sinto que nasci pra isso!
- Que lindo! – Lua falou empolgada e Micael pensou que foi por causa do que ele havia dito, mas percebeu que ela falava do bolo.
- Foi a mãe que fez. Ela pediu pra te pedir desculpas.
- Desculpar por que?
- É que foi assim, estava tudo pronto pra vocês virem e passarem o mês conosco e tal mas ligaram ontem pro pai dizendo que o irmão dele foi atropelado... Você sabe que a família do meu pai mora toda na França então eles voaram pra lá sem data pra voltar. Aí minha mãe fez esse bolo 100% chocólatra (massa de chocolate, recheio de chocolate e na cobertura mais chocolate) que você adora pra sei lá, se redimir pela ausência.
- Own que lindo! Se a tia voltar depois que eu for embora, diz pra ela que eu amei. Quer dizer... não o fato do seu tio ser atropelado, e sim o bolo! – Ela falou e os dois ficaram rindo e conversando bobagens por um bom tempo.
Ray não demorou pra se juntar a eles. Apenas Mel permaneceu no quarto por horas, ela havia dito que ia dormir e pelo visto apagou legal!
Já estava escurecendo, Micael e as duas meninas passaram o dia todo botando o papo em dia, nem ao menos saíram de casa o que é praticamente inacreditável!
Micael e Ray inventaram de fazer profiteroles... Lua apenas assistia enquanto eles se sujavam de farinha de trigo. O telefone começou a tocar na sala e ela foi atender, já que era a mais limpa. (ou talvez, apenas a menos suja!)
Ela pegou o telefone e nem teve tempo de falar ‘Alô’ pois a pessoa do outro lado já chegou direto ao ponto.
- Micael, cadê o Arthur?!
- Er... que Arthur? – Lua acabava de lembrar daquela história de um dos amigos do seu primo se chamar Arthur e sentiu um gelo na espinha.
- Ué, eu liguei errado? Não é a casa do Micael aí?
- É sim, aqui é a prima dele. Eu vou chamá-lo, como é seu nome?
- Diz que é a Delilah.
Lua foi chamá-lo e ele bufou ao saber quem estava ao telefone. Conversou rápido com ela dizendo que não sabia nada do Arthur e quando retornou à cozinha, Ray estava curiosa.
- É sua namorada, Borges?
- Não, é de um amigo retardado...
- Ela me parecia alterada, o que seu amigo fez pra ela? – Lua se interessou na conversa.
- Eu não sei, o namoro deles vai de mal a pior... – Micael deu de ombros e eles voltaram a fazer a mesma bagunça de antes.

Durante a noite não aconteceu nada de muito surpreendente, todos foram para seus quartos cedo porque tinham acordado cedo.
- Dude, eu acho que vou dormir. – Lua falou se espreguiçando no sofá, eles tinham acabado de assistir filme.
- Verdade, eu vou também. – Foi a vez de Ray fazer o mesmo e levantar.
- Mas ainda são dez horas! Só velho dorme essa hora! – Micael protestava.
- Você fala isso porque não acordou cedo que nem a gente! Não é Ray? Fala pra ele que hora caímos da cama hoje!
- 7 horas Micael, SETE! – Ray mostrou os sete dedos pra ele.
- Quem mandou deixarem pra arrumar tudo hoje... – ele deu de ombros. – Mas e a Mel, hein? Ela capotou lá desde a hora que chegou!
- Ah não liga pra ela não... Deve estar dormindo por duas noites, aposto que passou a noite de ontem toda em claro. – Ray falou como se tivesse certeza.
- E isso tudo foi ansiedade em me ver? – Micael estufou o peito orgulhoso.
- Claro! E olha só como ela está aqui te vendo agora! – Lua riu irônica e levou um pedala do primo. Logo os dois estavam numa guerra de tapas, gritinhos e até cócegas. Ray olhava confusa para aquela cena, será que Mel tinha razão quanto aos dois?
Lua por sua vez não parou de lembrar daquela conversa dias atrás quando Mel disse que o guitarrista da banda do Micael se chama Arthur. Entrou em seu quarto e lançou um olhar para a caixa rosa que ela deixou em cima da cama. Sentou-se ao lado da caixa mas não abriu, apenas passou os dedos de leve em cima da tampa. ‘Passei a tarde toda pensando em perguntar pro Micael sobre o tal Arthur, mas não posso fazer isso, nem conheço esse menino! Com certeza não é aquele Arthur!’ Depois ela colocou a caixa dentro do guarda -roupa e foi deitar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário